“Ele me batia…” Saiba como o jiu-jitsu ajudou essas meninas a superarem agressões

Fala, galera! O tema de hoje é um assunto que eu tava pra abordar há um certo tempo, só me faltava oportunidade mesmo pra colocar no ar. Depois de quase dois anos conversando com meninas e mulheres do jiu-jitsu todos os dias, percebi que boa parte delas já sofreu alguma espécie de agressão, em diferentes níveis.

E, infelizmente, é um fato bem corriqueiro na vida delas: de aproximadamente 200 meninas com quem conversamos todos os dias, pelo menos 20 relataram ter sofrido algum tipo de violência do marido, pai, tio ou irmão.

Foi triste colocar este assunto em pauta e perceber que – com razão – muitas delas têm vergonha de contar sobre o fato, ou preferem não contar tudo, ou ao começar a contar preferiram parar para não “sofrer” a experiência novamente. Fico pensando se, dessas 200 meninas, não havia mais delas que sofrem ou já sofreram e que preferiram não se pronunciar.  Agressão é coisa séria, e se você sofre algum tipo de violência, seja ela física ou psicológica, você deve denunciar, SIM.

Bom, ao perguntar sobre este assunto nos grupos, falei que a identidade delas seria mantida em segredo, e pouco a pouco o meu privado começou a pipocar:

“Oi Sam, eu já fui agredida pelo meu ex-namorado.”
“Sam, quero dar um depoimento, mas não me identifique, por favor, tenho medo dele me perseguir.”
“Sam, foi horrível, mas vou contar.”

Isso sem contar os áudios de 5, 10, 20 minutos… uma história mais cabeluda que a outra. Selecionei algumas delas, e espero que, se você, mulher, sofre algum tipo de violência em seu relacionamento ou em família, se sinta motivada a DENUNCIAR para ter uma vida longe de agressões.

“O comportamento agressivo dele eu fui percebendo ao longo das mentiras que ele contava, ele me traia e descobri que ele fumava maconha fora de casa.

Um dia durante uma discussão sobre obrigações que ele não estava cumprindo e eu conversando com ele e ele conversando com outra pessoa no celular, pedi que ele largasse o celular e prestasse atenção em mim. Ele ‘cagou’ pra mim, e nisso peguei o celular dele para por em cima da outra mesa do escritório.

No momento em que eu peguei o celular, ele voou em mim encaixando um mata leão. Eu tentei afrouxar a mão dele desesperadamente, mas não sabia como fazer, e fui vendo tudo ficar escuro. No instinto, resolvi deixar o corpo mole pra ver se não desmaiava. Até que ele viu que eu não estava com o celular na mão e me soltou.

A essa altura eu já estava com o pescoço roxo, o colar no meu pescoço arrebentou e eu tinha deixado marcas de unha dele. Foi horrível! Me sentia um lixo diante daquela situação. Foi nessa fase que eu cheguei a pesar 94kg, não tinha autoestima nenhuma e morria de medo dele. Mas o tempo passou, Deus me amparou e eu me separei. O Jiu-Jitsu me trouxe muita autoconfiança… Ando mais atenta na rua, para o caso de uma possível abordagem, eme sinto uma mulher super poderosa, sabe? Rs” (Mariana, 30 anos, faixa azul).*

“Então, passei por muitos relacionamentos abusivos, mas eu só percebia tempos depois. O pior foi um que me empurrava e me diminuía sempre, me perseguindo constantemente depois do relacionamento. E outro que era o abuso psicológico, ele também lutava e usava posições do jiu-jitsu na relação sexual para me imobilizar, até mata leão ele me deu, a americana eu vi como era na cama, entende? Treino há pouco mais de um ano, mas hoje me sinto mais forte. Sei que aquele ex nem chegaria perto de mim ou falaria qualquer coisa pois sei me defender das agressões que ele fazia.” (Luana, 27 anos, faixa roxa)*

“Eu tenho um irmão que sempre foi muito implicante comigo. Só que ele foi ficando mais velho, virando homem, e naturalmente mais forte que eu. Ele já jogou um tijolo na minha cabeça e me deixou desacordada, tiveram que me levar às pressas pro hospital, fiquei com a cabeça sangrando e tal. E ele já fez um escarcel na minha vida. Ele usa drogas e meus pais não acreditam de jeito nenhum que ele é usuário. Eles não acreditam em mim, já mostrei foto etc e de nada adiantou. Há mais ou menos um ano atrás ele chegou de uma festa e eu estava sentada na cozinha, e então ele olhou na minha cara, pegou um pirex e jogou na minha direção. Eu abaixei e o objeto estraçalhou na parede, e ainda quebrou meu celular junto. Como não me acertou, ele veio pra cima de mim e como eu faço jiu-jitsu, consegui me defender e o coloquei para dormir. E foi um alívio, pois antes ele me dava murros, atirava as coisas em cima de mim. Esses dias ele tacou uma garrafa de vidro em mim e pegou de raspão no meu ombro, e não satisfeito, pegou um canivete e veio em minha direção. A minha sorte é que eu pratico jiu-jitsu, pois nessa hora eu segurei o braço dele e dei um armlock para que ele soltasse o canivete. Eu só estou viva hoje por conta do jiu-jitsu.” (Cláudia, 20 anos, faixa roxa)*

Esses foram só alguns dos muitos que recebi… não tenho como colocar todos, afinal recebi vários e o post ficaria muito extenso. Mas fica o alarme para as mulheres que sofrem ou já sofreram agressões: violência doméstica É CRIME, seja ela praticada por seu pai, tio, irmão, avô ou namorado, e você não é obrigada a sofrer nenhum tipo de agressão, seja ela física ou psicológica. Fico feliz que algumas delas usaram o jiu-jitsu para superar tais traumas, adquiriram autoconfiança etc. Mas e as que não conhecem a nossa arte?

Tenho amigas que já apanharam de seus namorados, maridos e levaram a situação por muito tempo. É triste demais ver suas amigas acorrentadas a um relacionamento doente, vivendo uma vida infeliz, sofrendo agressões, e o pior: muitas vezes essas mulheres sofrem, mas não têm um apoio psicológico ou mesmo as condições pragmáticas para sair dessa situação de risco, motivo pelo qual muitas acabam perdoando ou fingindo que nada aconteceu. Lembre-se que você não é culpada, você não merece apanhar, procure ajuda e DENUNCIE. Mulher nenhuma merece passar por isso. 

Obrigada pelo depoimento, meninas! Espero que em breve essa realidade seja mudada.

*Os nomes foram modificados para que a identidade das entrevistadas fosse preservada

Como denunciar:

A denúncia de violência doméstica pode ser feita em qualquer delegacia, com o registro de um boletim de ocorrência, ou pela Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180), serviço da Secretaria de Políticas para as Mulheres. A denúncia é anônima e gratuita, disponível 24 horas, em todo o país. Para proteger e ajudar as mulheres a entenderem quais são seus direitos, em 2014, a Secretaria lançou um aplicativo para celular (Clique 180) que traz diversas informações importantes, como os tópicos da Lei Maria da Penha.

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