E aí, guerreira, o outubro foi rosa?

Mas enquanto o mundo explode
Nós dormimos no silêncio do bairro
Fechando os olhos e mordendo os lábios…
(Chico Science)

Olá! Aproveitei o nosso mês passado para fazer um apurado no cenário esportivo e social, para te falar de algumas coisas que você pode não ter visto ou acompanhado, mas que tem influência direta em suas vidas. Farei uso do nome da campanha, pois o mês que marca o início da primavera também nos convida a refletir sobre você, mulher, observar o que se tem feito rumo à conquista de seu espaço. Será uma breve retrospectiva de um mês um pouco atribulado.

A campanha que teve início nos EUA nos anos 90, ganhou o mundo e pouco a pouco vem sendo veiculada de uma forma mais ampla. Tudo começou na distribuição de laços cor-de-rosa numa corrida pela cura realizada pelo instituto Susan G. Komen for the cure. Posteriormente, a corrida virou oficial, como também a ornamentação de prédios, monumentos e até cidades inteiras, em prol da busca pelo diagnóstico precoce do câncer de mama. No Brasil, o INCA nos alerta para o problema que já atinge 56 mil pessoas, e destes números 90% são mulheres.

Além da campanha, alguns acontecimentos marcaram o último mês simbolicamente para as mulheres. Tivemos desempenhos positivos de nossas guerreiras nos tatames e octógonos, como nossa faixa preta Mackenzie Dern, que venceu sua segunda luta no MMA finalizando Montana Stewart no primeiro round. A atleta está invicta. Vale lembrar que o MMA ainda é um ambiente predominantemente masculino, e que não há divulgação/valoração das disputas femininas como dos homens, como também é reduzido o número de competidoras.

No judô, os resultados também foram significativos: no Grand Slam realizado em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, Maria Suelen Altheman foi campeã, e Samanta Soares levou o bronze. Já no Sul Americano, realizado em Lima, capital do Peru, Eleudes Valentin ficou com o ouro, enquanto Nádia Merli ficou com a prata e Nathália Mercadante fechou com o bronze.

Fora dos tatames, o destaque foi o lançamento do livro Japonegra: uma história de superação fé e amor, da pioneira do judô feminino brasileiro Soraia André. Soraia, que iniciou sua vida no judô num período em que mulheres eram proibidas de praticar esportes “incompatíveis com o sexo feminino”, conta também como foi a aproximação de uma mulher negra na prática de uma atividade que só filhas de professores podiam treinar. Confira aqui neste link o evento de lançamento do livro.

A Organização das Nações Unidas instituiu o dia 25 de outubro como dia internacional contra a exploração da mulher. Uma data solícita à reflexão sobre desigualdades e discriminações de gênero, cotidianas de vocês, guerreiras. Para se ter uma ideia, o Fórum Econômico Mundial publicou um dia após a data o seu relatório de desigualdade global de gêneros e, o Brasil ocupa a posição 129 entre 144 países pesquisados. Concluindo que, levaremos 104 anos para igualar as remunerações de homens e mulheres que exercem a mesma função. O número de mulheres que exercem cargos altos e de chefia também é muito baixo.

No último mês, também ocorreu um chocante feminicídio na Argentina, o que desencadeou mobilizações em quase todos os países da América do sul. A jovem Lucia Pérez de 16 anos foi vítima de um estupro coletivo e morreu em decorrência das violências cometidas contra seu corpo durante o brutal ato, não entrarei em detalhes, pois o fato em si já é violento demais. Grupos e coletivos sociais mobilizaram eventos que lotaram as avenidas portenhas, convocando também paralisações.

O movimento Nenhuma a menos (Ni Una Menos) participou dos atos e se organiza em prol de ações contra o feminicídio e o machismo, divulgando números alarmantes de violência contra a mulher. A cada duas horas uma mulher morre vítima da cultura da dominação (machismo) em nosso país. Logo, o problema não está apenas na casa de nossos hermanos.

Não podemos deixar de citar que o ajuste fiscal, ainda que brevemente, que sofreremos com a aprovação da PEC 241 e PEC 55, muito discutido no mês, e ela afetará diretamente as mulheres por conta do congelamento por 20 anos no orçamento da educação e saúde, com isso, minando creches e postos de saúde, mas este é um longo assunto para ser discutido no momento.

Enfim, convido novamente à questão tema deste texto: o outubro foi rosa mesmo, guerreira? Sabemos que se espera de um texto de uma página de jiu-jitsu feminino muitas dicas a respeito do mundo dos tatames, mas sabemos também que antes e após a nossa hora de treino a realidade nos espera fora dos dojôs nem sempre é a que gostaríamos de ver (embora seja para outros). A realidade é o conjunto destes fatos positivos e negativos. E podemos, claro, lutar para evitar alguns.

Ofereço aqui uma oportunidade de observarmos que no mesmo momento em que uma mulher é medalhista em uma área de combate ou destaque em sua atuação, outra passa por um resultado trágico. E não é apenas em outubro, mesmo que fatos não cheguem ao nosso conhecimento, eles estão ali.

Que novembro nos traga uma retrospectiva de lutas e conquistas.

Oss!

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