A ascensão do público feminino no Jiu-Jitsu – Parte I

Quem passeia pelas cidades brasileiras, seja capital ou interior, percebe uma presença colorida em tons de cor de rosa nas academias de Jiu-Jitsu. Um toque delicado, mas nem por isso servil aos duros exercícios para desenvolvimento de força e resistência. A aproximação em massa do público feminino nos tatames é um fenômeno contemporâneo, trazendo em sua razão alguns fatores históricos e culturais que determinaram a causa de só agora essas guerreiras se identificarem com esta arte que propaga a dominação do mais fraco contra o mais forte, fisicamente falando.

Temos relatos de atletas que deram o ar da beleza e suavidade feminina nos tatames mundo a fora em décadas anteriores, porém , precisou ocorrer um avanço cultural em nossa sociedade para que o olhar sobre estas guerreiras fosse mais receptivo no universo das lutas. Alguns fatores foram determinantes para que houvesse a construção de paradigmas que excluem as mulheres do nosso glorioso Jiu-Jitsu.

Podemos observar na história da atividade física no Brasil que algumas práticas afastavam ou selecionavam o que era do gênero masculino e do gênero feminino. Percebemos na origem da educação física brasileira que ocorria a prática do sexismo, ou seja, a determinação do que era exercício de meninas e o que era de meninos, e isso acontecia em nossas escolas.

Os métodos ginásticos, oriundos de países como Suíça, França e Alemanha foram à primeira expressão de práticas corporais e balizavam o ensino da Educação Física escolar, quando esta foi inserida por Rui Barbosa nas escolas em 1882. Exercícios ginásticos em fileiras, idênticas as das forças armadas e meninas separadas dos meninos, em prol da ordem e concentração.

Este modelo perdurou por décadas e pode ser observado ainda em alguns espaços. Durou tempo suficiente para adentrar no ideário popular, como já dizia o ministro da propaganda nazista Joseph Goebbels: “uma mentira repetida mil vezes se torna verdade”. Basta ouvir a resistência de alguns pais em matricular suas filha em aulas de Judô ou Jiu-Jitsu: “por que é esporte de menino”.

Mulheres que já foram responsáveis no século XIX pela saúde e bem estar da família (havia uma culpabilização das mulheres no processo de saúde/doença em seus lares), que não tinha direito a voto, simplesmente tinha o seu lugar, obviamente,determinado por alguém nas práticas corporais.

Estes acontecimentos nos fazem refletir sobre os ideais dos fundadores da arte suave brasileira, quando criaram o método de defesa do mais fraco dominar o mais forte, em vários sentidos. Como afirmamos no inicio, as diferenças entre homens e mulheres em alguns casos são meramente físicas.

Sendo assim, não seria importante ou fundamental que nossas “feras que sabem machucar”, como diria Elba Ramalho na canção Mulher, se aproximassem da arte suave? Tendo em vista os riscos que as mesmas correm cotidianamente? São tantos “abusados” “folgados”, entre o percurso de casa para o trabalho… “Talvez seja esse o maior privilégio masculino de todos: não entender o nosso medo de estupro…” Falou Leticia Penteado no artigo “Porque as mulheres tem tanto medo de serem estupradas” (Revista Fórum). Talvez não passasse pela cabeça dos principais nomes da arte suave daquela época tais riscos.

Vamos julgar os homens no seu tempo histórico. Chegou a hora então das excluídas (as “fracas”) da história, dominarem os mais fortes (a sociedade). Funcionalmente, os argumentos foram oferecidos e sabemos de outras determinações no qual podemos creditar este atraso da aproximação das mulheres, a história ainda está em movimento, e alguns acontecimentos estão sendo convidativos.

A ideia desta parte inicial era apresentar alguns fatores que contribuíram para a divisão de gênero em algumas atividades físicas que refletiram na arte suave e a importância do Jiu-Jitsu no combate à violência sexual. Vamos apresentar no post da próxima semana, fatores que estão alterando este cenário.

Bons treinos à todos. Oss!

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