O multicampeão de jiu-jitsu Leandro Lo morreu em 7 de agosto de 2022 após ser atingido por um tiro à queima‑roupa. O autor do disparo, que é réu confesso, foi o tenente da Polícia Militar Henrique Otávio Oliveira Velozo, que responde judicialmente pelo caso.
Desde então, a comunidade do jiu-jitsu e defensores da justiça aguardam que o caso tenha um desfecho justo e que o acusado, se condenado, seja responsabilizado conforme a lei.
O adiamento inesperado do julgamento
O júri popular do tenente Velozo estava previsto para os dias 22 e 23 de maio de 2025, mas foi suspenso após recurso da defesa.
Alegou-se cerceamento do direito de defesa porque o juiz se recusou a ouvir depoimentos de peritos particulares, afirmando que os laudos escritos já eram suficientes. A suspensão marcou o primeiro atraso formal do julgamento.
Na manhã de 5 de agosto de 2025, a audiência teve início no Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo. Mas um desentendimento entre as partes envolvidas impediu a continuidade dos trabalhos. O julgamento foi interrompido e o júri dissolvido após um bate-boca entre a defesa, o promotor e familiares da vítima. A confusão começou quando o advogado de defesa insinuou que Leandro teria consumido maconha na noite do crime, o que foi negado pelo delegado responsável pela investigação. O clima esquentou com acusações mútuas de desrespeito, exibição de fotos e insinuações de legítima defesa, levando o juiz a decidir que não havia condições de continuar a sessão.
Esse já é o segundo adiamento do caso, que foi remarcado para 12, 13 e 14 de novembro. A mãe de Leandro Lo, Fátima Lo, emocionada, criticou a postura da defesa, dizendo que o episódio apenas prolongou seu sofrimento. A acusação pretende pedir a condenação de Velozo por homicídio triplamente qualificado, com expectativa de pena mínima de 20 anos.
Veja nota de repudio publicada no perfil dos familiares da vítima:

Imagem: Reprodução Instagram
O tribunal dissolveu o júri desta sessão e remarcou o julgamento para 12 de novembro de 2025, às 10h, de forma oficial, após quase três anos do crime.
O que está em jogo neste julgamento?
Henrique Velozo responde por homicídio doloso triplamente qualificado, por ter agido com motivo torpe (no direito penal, motivo torpe é quando alguém comete um crime movido por uma razão considerada moralmente desprezível, vergonhosa ou repugnante para qualquer pessoa de senso comum.), colocado outras pessoas em risco e dificultado a defesa de Leandro Lo.
A estratégia da defesa segue sendo a alegação de que o disparo ocorreu em legítima defesa, apesar de existirem testemunhas e vídeos que indicam que Leandro Lo o conteve de forma não violenta, momentos antes de ser atingido.
Relatos também indicam que o policial deu dois chutes na cabeça de Leandro, já desacordado, após o tiro fatal.
Enquanto isso, o tenente segue preso preventivamente no presídio Romão Gomes, zona norte de São Paulo, mas ainda recebe salário como oficial PM, situação autorizada por decisão do STF, que entendeu que a suspensão da remuneração só poderia ocorrer após condenação definitiva com trânsito em julgado.
Em junho de 2025 ele foi demitido da Polícia Militar, quando o Tribunal de Justiça Militar decidiu, por unanimidade, cassar sua patente e expulsá-lo da PM. Contudo, isso não implica punição criminal, que só ocorrerá se houver condenação em novembro.
Segue comunicado oficial:
“Em sessão realizada na tarde desta quarta-feira (18), o Pleno do Tribunal de Justiça Militar do Estado de São Paulo (TJMSP) decretou, por unanimidade, a incompatibilidade do tenente da Polícia Militar Henrique Otávio Veloso para o exercício de suas funções, considerando procedente o Conselho de Justificação ao qual foi submetido. Os fatos geradores ocorreram em 7 de agosto de 2022, durante um show musical em um clube na zona sul da capital paulista. Na ocasião, o tenente, que estava de folga e em trajes civis, teria se envolvido em uma discussão e efetuado um disparo de arma de fogo contra o civil Leandro Lô Pereira do Nascimento. A vítima foi atingida na cabeça e não resistiu aos ferimentos.
Por se tratar de crime doloso contra a vida, o julgamento do homicídio será realizado pela Justiça Comum, com audiência marcada para o dia 5 de agosto. Já o processo competente à Justiça Militar, voltado à avaliação da permanência do oficial nos quadros da corporação, destacou-se por sua celeridade, tendo início em 24 de abril deste ano e concluído nesta quarta-feira, com apenas 74 dias de tramitação.”
A dor da comunidade do jiu-jitsu em relação a Leandro Lo
Desde o dia da morte de Leandro Lo, a tragédia ecoa por todo o movimento brasileiro e internacional. Atletas, academias e fãs iniciaram uma mobilização permanente por justiça, homenagens e campanhas que mantêm viva a lembrança do lutador. Nada disso apaga a violência sofrida nem devolve sua vida, muito menos disciplina autoridades.
Carregam nas mangas desta narrativa não apenas revolta, mas um sentimento coletivo: se a vítima fosse outra, se fosse um policial para outros policiais, será que o cronograma seria tão arrastado? Quantas sessões de júri podem ser dissolvidas antes que se legitime a impunidade por desgaste?
Esse adiamento não é um mero contratempo protocolar: ele expõe fraquezas do sistema
A dissolução do júri em curso revela que, mesmo pouco tempo antes de começar, tudo pode ruir por decisões judiciais que interrompem o processo sem um motivo convincente.
A defesa de há quase três anos tenta adiar, protelar, relativizar a noção básica de justiça para um lutador morto em público, e ainda mantém salários pagos como se nada tivesse acontecido.
Toda data marcada para o julgamento de Velozo era uma oportunidade de dar alguma medida de justiça por Leandro Lo.
Para muitos, não basta que Velozo perca o distintivo. Para a família, para os colegas e para o público no geral, é urgente que ele seja condenado e cumpra pena compatível com o crime bárbaro que cometeu.
O adiamento do julgamento para novembro de 2025 traz frustração, mas também uma chamada ativa à vigilância. Essa é hora de manter os olhos fixos no caso, continuar pressionando na mídia, exigir que nada seja encoberto e cobrar que a justiça se sobreponha à burocracia, à pressão e ao silêncio institucional.
À Justiça cabe agora, finalmente, fazer o intermediário dessa memória contra a impunidade.
Desejamos força e resiliência aos familiares, amigos e fãs do atleta. Contem conosco para que o caso não caia no esquecimento!