Jiu jitsu feminino no Ceará: Conheça a Trajetória de Lia Nunes

Hoje conversamos com a Lia Nunes, faixa preta da Six Blades, pedagoga, servidora pública, mãe de dois filhos e líder da primeira filial da equipe no interior do Ceará. Ela sem dúvidas representa tudo o que a gente acredita: transformação através do esporte, protagonismo feminino e resistência, especialmente no contexto do jiu jitsu feminino no Ceará.

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Entre o trabalho, os treinos e a maternidade, ela encontrou um tempo para conversar com a gente. Confira a entrevista na íntegra:

O jiu jitsu feminino no Ceará tem crescido de forma significativa, e Lia é um exemplo disso.

Como o Jiu-Jitsu entrou na sua vida?

Foi através do meu pai. Ele treinava no Rio de Janeiro e sempre me incentivou a começar, principalmente por defesa pessoal. Em 2007, eu tinha 14 anos e morava no interior do Piauí. Comecei a treinar com dois professores que eram faixa azul na época, em um galpão com tatame improvisado. Era um cenário muito simples e quase não havia outras meninas treinando.

Mais tarde, já faixa roxa, me mudei para Crateús, no interior do Ceará. Comecei a dar aulas para uma amiga com tatames emprestados. Aos poucos, outras pessoas que não se sentiam acolhidas nos espaços tradicionais de luta, especialmente mulheres e LGBTQIAP+, começaram a me procurar. Em 2019, iniciei um projeto social na periferia da cidade, e em 2020 fui graduada à faixa preta pela Six Blades, equipe do Sensei Xande Ribeiro, por meio do meu professor Saul Oliveira. Desde então, passei a atuar ativamente na construção do jiu jitsu feminino no Ceará, levando inclusão e representatividade para dentro dos tatames.

Hoje, sou a única mulher faixa preta da região e, em 2024, abri a primeira filial da Six Blades liderada por uma mulher. Atualmente, temos mais de 100 alunos, desde crianças a partir de três anos até alunos masters.


Como é sua rotina de treinos?

Tenho uma rotina bem cheia, com todos os desafios da vida adulta. Sou pedagoga e trabalho no Instituto Federal do Ceará, na área de assistência estudantil. Além disso, cuido da parte administrativa do nosso centro de treinamento, dou aulas, cuido da casa e tenho dois filhos pequenos, um menino de três anos e uma bebê de seis meses.

Com tudo isso, consigo treinar Jiu-Jitsu duas vezes por semana, exclusivamente para mim, sem dar aula. Faço musculação três vezes por semana. Meu marido é faixa marrom, profissional de educação física e também professor de capoeira, o que facilita bastante para que eu consiga encaixar treinos em casa nos fins de semana ou em algum tempo livre. Essa rotina é parte do meu compromisso com o fortalecimento do jiu jitsu feminino no Ceará, mostrando que é possível conciliar maternidade, trabalho e esporte.

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Quanto à alimentação, como vivemos o esporte em família, buscamos manter hábitos saudáveis. No domingo, preparo todas as refeições principais da semana, com as porções ajustadas para cada um aqui em casa.


Quais são os maiores desafios na carreira?

O maior desafio é, sem dúvida, a valorização do atleta. Viver do Jiu-Jitsu exige uma caminhada longa, cheia de obstáculos. Para as mulheres, esses desafios são ainda maiores. Apesar de termos hoje mais representatividade, com nomes como Kyra, Nika e Pessanha, ainda enfrentamos resistência em muitos ambientes, especialmente fora dos grandes centros.

A presença feminina em academias muitas vezes é hostilizada. Ainda existe assédio e uma cultura machista que nos coloca em competição umas com as outras. Vi muita coisa mudar nos últimos anos, e acredito que quanto mais mulheres assumirem posições de liderança, mais conseguiremos transformar essa realidade – tanto no jiu jitsu feminino do Ceará quanto em outras partes do mundo.


O que o Jiu-Jitsu trouxe para sua vida?

O Jiu-Jitsu moldou quem eu sou. Treino desde os 14 anos, então ele impactou profundamente a minha personalidade e a minha forma de ver o mundo. Me ensinou a lidar com desafios, me deu oportunidades de crescimento pessoal e profissional. Hoje, ele é o meu trabalho e o meu propósito e também a minha maior ferramenta com a qual contribuo para fortalecer o jiu jitsu feminino no Ceará, promovendo inclusão e representatividade.


Qual é o seu estilo de jogo preferido?

Sempre fui a menor da academia, então desenvolver um bom jogo de guarda virou quase uma necessidade. Meu estilo favorito é a guarda fechada, com uma pegada bem clássica, e a minha finalização preferida sempre foi o triângulo.


Quais são seus principais títulos?

  • Campeã Mundial CBLP 2019
  • Campeã Internacional Open Fortaleza 2019
  • Campeã Piauiense 2024

Quem são suas maiores inspirações?

A Kyra foi a primeira mulher que vi no Jiu-Jitsu. Ela me marcou muito. E o meu professor Xande, além de ser um atleta excepcional, é uma pessoa incrível fora do tatame.


Quais são seus objetivos no esporte?

Meu maior objetivo agora é formar minha primeira faixa preta. E esse momento já está bem perto.


A história da Lia mostra como o Jiu-Jitsu pode ser uma ferramenta de transformação social e pessoal. Mais do que vencer campeonatos, ela está vencendo barreiras, quebrando padrões e inspirando outras mulheres a ocuparem seu espaço no tatame — e fora dele também. Obrigada por sua contribuição para o Bjj Girls e para o jiu-jitsu feminino, Lia ❤️

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