Após o Brasil aderir ao distanciamento social muito se falou em como os casos de violência doméstica aumentaram. Sabendo disso, alguns professores de jiu-jitsu resolveram fazer vídeos de defesa pessoal voltados a vítimas dessa violência para que as mesmas se defendessem de seus agressores dentro de casa.
Mas pensando em todo o contexto em que essas mulheres estão inseridas, seria possível elas aprenderem a se defender apenas observando um vídeo? Nós que já praticamos arte marcial sabemos que não é tão simples aprender a fazer um movimento apenas observando. É preciso praticar a técnica várias vezes até que se consiga atingir o movimento certo.
Agora, seria possível uma pessoa que nunca praticou alguma arte marcial conseguir desenvolver uma técnica por meio de um vídeo? E mais ainda, seria esta a melhor maneira de tentar ajudar estas vítimas?
Formas de violência
Segundo o Instituto Maria da Penha existem cinco tipos de violência doméstica:
- Violência física: entendida como qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal da mulher.
– Espancamento;
– Atirar objetos, sacudir ou apertar os braços;
– Estrangulamento ou sufocamento;
– Lesões com objetos perfurantes ou cortantes;
– Ferimentos causados por queimadura ou arma de fogo;
– Tortura.
- Violência psicológica: é considerada qualquer conduta que cause dano emocional e diminuição da autoestima; prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento da mulher; ou vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões.
– Ameaças;
– Constrangimento;
– Humilhação;
– Manipulação;
– Isolamento (impedir de viajar e estudar ou de falar com amigos e parentes)
– Vigilância constante;
– Perseguição;
– Insultos;
– Chantagem;
– Exploração;
– Limitação do direito de ir e vir;
– Ridicularização;
– Tirar a liberdade de crença;
– Distorcer e omitir fatos para deixar a mulher em dúvida sobre a sua memória e sanidade.
- Violência sexual: trata-se de qualquer conduta que constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força.
– Estupro;
– Obrigar a mulher a fazer atos sexuais que causam desconforto ou repulsa;
– Impedir o uso de métodos contraceptivos ou obrigar a mulher a abortar;
– Forçar matrimônio, gravidez ou prostituição por meio da coação, chantagem, suborno ou manipulação.
– Limitar ou anular o exercício dos direitos sexuais e reprodutivos da mulher.
- Violência patrimonial: entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades.
– Controlar o dinheiro;
– Deixar de pagar pensão alimentícia;
– Destruição de documentos pessoais;
– Furto, extorsão ou dano;
– Estelionato;
– Privar de bens, valores ou recursos econômicos;
– Causar danos propositais a objetos da mulher ou dos quais ela goste.
- Violência moral: qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.
– Acusar a mulher de traição;
– Emitir juízos morais sobre a conduta;
– Fazer críticas mentirosas;
– Expôr a vida íntima;
– Rebaixar a mulher por meio de xingamentos que incidem sobre a sua índole;
– Desvalorizar a vítima pelo seu modo de se vestir.
Como ajudar as vítimas?
Analisando todos estes tipos de violência que podem acontecer com uma vítima, como seria possível que ela sozinha e presa dentro de casa com seu agressor conseguisse se defender da agressão física através apenas da observação de uma técnica de defesa pessoal?
O conjunto dessas violências faz com que a vítima se torne uma pessoa muito vulnerável, fraca emocionalmente, confusa e muitas vezes até culpada pelo o que acontece com ela.
Deste modo, infelizmente é bem difícil ajudar essas vítimas apenas com defesa pessoal. É necessário um trabalho bem mais abrangente para se lidar com este tipo de situação. Hoje existem diversos vídeos que ajudam vítimas que estão presas dentro de casa com seus agressores a pedir ajuda, por exemplo. Com números de denúncia ou instituições que elas possam ligar. Muitos na maioria das vezes são silenciosos para que não chame a atenção deles.
O trabalho de defesa pessoal é sim muito importante, mas é necessário que se tenha conhecimento a respeito de como acontece a violência doméstica de uma forma geral para depois tratar sobre o assunto com mais propriedade. Daí sim pensar em uma forma mais eficiente para ajudar estas mulheres.