A maneira mais justa de começar esse artigo é explicar como formulei as respostas da pergunta que dá título ao texto. Esclareço que não sou professor ou faixa preta. Quem escreve essas linhas é um mero praticante da arte suave e ainda faixa branca. Tampouco sou educador físico ou psicólogo infantil. Ganho a vida como jornalista. Então é legitimo que você, que agora gasta seu precioso tempo diante de uma tela, se pergunte: que credenciais têm esse senhor para se aventurar em tão complexa questão? A verdade é que me baseio na comum – porém extraordinária – experiência de ser pai. Tenho duas filhas e tento me dedicar ao máximo a elas.
Antes de matricular minha menina mais velha em uma academia, procurei textos na internet, vídeos no Youtube e, usando redes sociais, enviei perguntas para professores de jiu-jitsu e judô. Mas esbarrei em uma série de argumentos e ideias contraditórias. Cada um defendendo seu peixe.
A solução foi me aventurar. Gastei sola de sapato visitando academias, saliva conversando com pais de praticantes de artes marciais e com professores e funcionários dos centros de lutas e – principalmente – tempo observando treinos infantis. Acredito ter condições de dar alguns conselhos aos pais e mães cheios de dúvidas, receios e medos sobre como escolher uma academia para os pequenos.
Localização, horários e valores.
Parece óbvio, mas a experiência me obriga a dizer: a primeira coisa a se considerar ao definir a academia é a localização, horários dos treinos e a mensalidade. Se você não tiver condições de levar e buscar a criança ou pagar as taxas por um longo período, a expectativa dará lugar à frustração. Descobri que essa situação é bem comum.
Quantidade de crianças e idades
Superada a questão anterior, sugiro que a criança faça pelo menos duas aulas experimentais antes da matrícula. É importante observar se as classes tem um número considerável de alunos e se há crianças na mesma faixa etária de seus filhos e filhas. Se os demais alunos forem muito mais velhos ou novos, seu filho (a) pode se sentir deslocado (a) e, conseqüentemente, desmotivado (a).
Professor e programa da academia
Certamente, avaliar se o professor tem método e jeito para lidar com crianças é fundamental. Vale também verificar se a academia segue um programa. Isso garante que, caso o professor seja substituído, o novo terá condições de seguir com os ensinamentos sem uma ruptura drástica. Mudanças radicais na metodologia de ensino podem assustar a meninada.
Minha experiência
Aos 2 anos, minha filha mais velha começou na natação e no balé. Mas, aos quatro, médicos aconselharam a afastá-la das piscinas porque tinha freqüentes crises de asma. Já a dança ela resolveu que não gostava e pediu para sair.
Antes do jiu-jítsu, procurei outras modalidades. Só encontrei aulas de vôlei e basquete para crianças maiores. Futebol, ela não quis porque as turmas que visitamos eram formadas apenas por meninos. Fez duas aulas de tênis. Porém, além de serem caras, pareceu ser difícil para a idade dela.
Então descobri que as artes marciais são muito interessantes para crianças, sobretudo para as pequenas. Elas conseguem executar bem os movimentos, entendem a dinâmica do esporte e evoluem rapidamente. Escolhi experimentar jiu-jitsu ou judô porque ambas me atraiam.
A primeira academia foi de judô. Chegamos bem atrasados por conta do horário que saio do trabalho e do trânsito. É uma das mais tradicionais de Brasília, cidade onde moramos. O mestre é um faixa vermelha 9° dan de 75 anos. Apesar do atraso, uma menininha de aproximadamente 6 anos, carinhosamente, puxou minha filha pela mão. Tinham várias outras crianças do mesmo tamanho. O mestre ensinava por meio de brincadeiras. Ela amou. Porém o horário era péssimo para nós. Tentei levá-la novamente, mas outra vez chegamos muito atrasados.
Fomos então a uma aula de jiu-jitsu para crianças perto de casa e em horário ótimo. Foram outras duas aulas experimentais. Os dois professores tinham muito jeito com crianças. Contudo, os outros alunos eram mais velhos, com idades entre 8 e 12 anos. Percebi que ela ficou deslocada.
A próxima tentativa foi ir a um treino de judô na própria escola dela. Começava imediatamente após a aula. O professor, apesar de jovem, era muito didático. Para derrubar, pedia que as crianças transformassem as pernas em “ganchinhos”. Na hora de pegar as costas, tinham que “se transformar em mochilinhas”. E por aí caminhavam as aulas. Foram 4 meses ótimos. Porém o rapaz foi aprovado em um concurso e deixou a turma. O substituto, mesmo muito dedicado, puxava o treino como se estivesse lidando com adolescentes. As crianças, a maioria com menos de 6 anos, pareciam não entender.
Por fim, encontrei uma academia de jiu-jitsu que atende a todos os critérios que julgo importante. Consigo levar e buscar tranquilamente, há crianças na mesma idade que minha filha e o professor entende a linguagem delas. Além disso, a academia tem um e programa e uma metodologia pré-determinada. Isso ajuda porque mesmo que o professor mude, o substituto segue a mesma cartilha.
Nessa procura, também me encontrei. Assistir as crianças rolando e divertindo-se com os professores fez nascer em meu coração o desejo de brincar da mesma forma com minhas filhas. E assim eu também virei aluno. O jiu-jitsu me conectou ainda com minhas meninas.