Conheça Lucimara Jara: Faixa Preta de Jiu-Jitsu, Policial Civil e Professora de Defesa Pessoal

O quadro Atleta da Semana do BJJGirlsMag traz Lucimara Jara, faixa preta de jiu-jitsu, policial civil, especialista em defesa pessoal e professora da quarta edição do nosso lindo projeto CONEXÃO BJJ.

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Lucimara tem uma história inspiradora dentro e fora dos tatames. Com uma vida marcada pela dedicação ao esporte, à família e à profissão, ela mostra como o jiu-jitsu pode transformar não só o corpo, mas também a postura e a forma de viver.

A seguir, confira a entrevista completa com Lucimara Jara:

Como conheceu o jiu-jitsu e há quanto tempo treina?

“Então, na verdade eu conheci o jiu-jitsu através da minha filha. Ela conheceu o jiu-jitsu e nos apresentou jiu-jitsu. 

Eu comecei a acompanhar ela, comecei a ir para os campeonatos, trabalhar nos campeonatos e acompanhar ela nos treinos, e com isso eu comecei a me apaixonar pelo esporte. Como eu já praticava a defesa pessoal, então eu uni uma coisa à outra e já comecei a praticar também junto com ela. Então ela que trouxe toda família pro jiu-jitsu. 

Ela que começou, aí ela trouxe os irmãos, ela me trouxe e trouxe o pai… e hoje em dia todo mundo é do jiu-jitsu. Tanto que a minha outra filha também é faixa preta, o meu filho é faixa azul e o pai a faixa preta também, então a família toda hoje em dia é do jiu-jitsu graças a ela.

Eu treino há 10 anos já jiu-jitsu, só que eu já treinava defesa pessoal antes, então há 15 anos eu treino em defesa pessoal e há 10 anos eu treino jiu-jitsu.”

Como é a sua rotina de treinos?

“A minha preparação, na verdade como eu tenho agora academia, eu não foco nessa área de competição. Porque eu nunca fui competitiva, eu nunca fui eu. Na verdade participei de campeonato até a faixa roxa, porém eu nunca saí aqui do meu estado e os poucos títulos que eu tenho são daqui do estado mesmo. Só que nunca saí, nunca saí pra competir. Nunca foi o meu objetivo.

Por mais que eu seja cobrada por minha filha pra sair pra competir, nunca foi o meu objetivo de vida, porque o meu jiu-jitsu ele me oferece outras coisas que suprem isso. Eu acredito que o jiu-jitsu é um leque muito grande e nesse leque ele me apresentou muitas coisas e não só competição, então eu sou fã do jiu-jitsu por tudo isso que ele proporcionou na minha vida.

O jiu-jitsu, como eu também sou policial civil, o jiu-jitsu e defesa pessoal andam comigo o tempo todo e salvam a minha vida todos os dias, salvam a minha vida a todo minuto.

Então a minha rotina de treino, eu treino todos os dias desde que eu comecei jiu-jitsu. Dificilmente eu vou ficar um dia sem treinar, então uma hora por dia eu estou treinando, estou fazendo preparação uma hora por dia, todos os dias desde que eu comecei há 10 anos. 

E faço Cross. Tenho uma parceria com a Pantera Negra, próximo de casa, que é uma grande academia líder de CrossFit. Eu faço só isso. Minha preparação das minhas aulas também, agora tem essa correria das aulas né, que eu tenho a turma noturna e durante o dia eu estou na minha profissão, eu estou ocupada com a minha profissão.”

Quais são as principais dificuldades no esporte?

“Vamos lá, dificuldades no esporte: apoio. 

Na verdade o apoio é a principal dificuldade no nosso esporte porque nós temos, aqui no estado mesmo que fica distante de São Paulo, então pra levar a Giovanna pra fora foi mais complicado porque a gente teve que correr sozinha, a gente teve que fazer rifa, teve que vender bolo e era bem complicado porque pra ajudar poucas pessoas ajudam e tudo ficava caro… era mensalidade de academia que a gente pagava, era transporte, tudo muito caro. Então foi bem difícil no começo por conta disso.

Por nosso estado ser longe das grandes capitais, nós sofremos bastante no início pra conseguir levar a Giovanna, conseguir apresentar a Giovanna pra fora por conta desse apoio que é complicado. 

A gente não tem muito apoio no esporte, então, aqui na época só tinha uma federação e apoio a gente não tinha nenhum, foi muito difícil esse começo pra Giovanna.

Então, tanto que hoje em dia eu sou presidente de uma associação que nós criamos aqui no estado, nove equipes criaram essa associação, a Associação União Pantaneira. Essa associação foi criada pensando nisso, nessa dificuldade toda que eu tive com a minha filha. 

Então essa associação é voltada a ajudar o atleta. Nós estamos há um ano e pouquinho com essa associação e, graças a Deus, o objetivo é esse. Nós ajudamos com premiações em dinheiro nos campeonatos que nós estamos fazendo, ajudamos com os projetos sociais que já pagam meia… coisas que não tinham aqui no nosso estado. 

Então eu acredito que a tendência é melhorar, o pior eu acredito que já passou.”

Como é ser uma policial que também é faixa preta?

“Ser policial e ser faixa preta pra mim, como eu já disse hoje, salva minha vida todos os dias porque me apresentou uma forma de ser, uma postura que me salva. 

Essa visão, essa amplitude das coisas que o jiu-jitsu me apresentou acaba que me salva no dia a dia. Eu sei onde eu entro, onde eu não entro, onde eu posso estar, onde eu não posso estar, graças ao jiu-jitsu.”

Você também é mãe de uma atleta de alta performance. Como foi pra você conciliar auxiliar sua filha nesse processo sem se deixar de lado?

“Ser mãe da Giovanna, auxiliar ela sem me deixar de lado, não foi muito difícil porque a Giovanna sempre foi muito independente. 

Ela, desde muito cedo, sabia o que ela queria pra ela. Ela correu atrás, foi em busca dos sonhos dela, e o auxílio que eu podia prestar era sempre estando ao lado dela. Eu nunca esqueci de mim nesse processo porque ela nunca deixou que eu esquecesse de mim. 

A Giovanna é muito preocupada comigo, então ela nunca deixou que eu me deixasse de lado nesse processo todo. Ela sempre ficava ‘mãe vai treinar, mãe vai fazer isso’, sempre me cobrou pra competir… eu que não quis ir atrás, sair daqui por conta das coisas que eu tenho, mas ela sempre me cobrou essa atenção comigo. Ela nunca deixou que eu visse somente ela e esquecesse de mim.”

Quais os benefícios que o jiu-jitsu trouxe para a sua vida?

“Inúmeros benefícios. Ele trouxe pra mim e pra minha família e agora para os meus alunos, porque ele mudou totalmente a minha vida e hoje em dia eu posso mudar a vida de outras pessoas, a vida de outras mulheres através desse esporte que é incrível. 

Ele me trouxe autoestima, postura, liderança e um comportamento de excelência que é o que me salva. O jiu-jitsu está na minha vida como, como eu sou policial eu também sou jiujiteira, então está enraizado na minha vida. É um estilo de vida em casa o jiu-jitsu pra gente.”

Qual o estilo de jogo que mais gosta e qual sua finalização preferida?

“Na verdade, quando eu comecei a praticar o esporte, quando eu competia, eu gostava muito de passar. Só que quando eu fui treinando os meus alunos eu comecei a fazer guarda e hoje em dia eu sou guardeira por conta disso. 

E eu gosto muito de ser guardeira, dessas posições. A finalização preferida pra mim é aquela que tiver mais justa. E na guarda as finalizações que eu gosto muito de fazer são partindo da guarda aranha.”

Quem são suas maiores inspirações no esporte?

“As pessoas que eu mais admiro no jiu-jitsu, inspiração pra mim com certeza é a minha filha Giovanna Jara. Ainda mais agora que ela é mãe e, mesmo sendo mãe, ela continua os treinos, não parou, continua se cuidando e pretendendo voltar o mais rápido possível. 

Isso pra mim não tem como, ela é a minha maior inspiração no jiu-jitsu. Giovanna Jara com certeza, a minha fera pantaneira, a minha maior inspiração nesse esporte.”

Qual conselho você daria para uma mulher que está pensando em começar no jiu-jitsu mas tem medo?

“O conselho que eu daria pra mulher que está pensando em começar jiu-jitsu mas tem medo: vem assim, venha com medo mesmo. 

O medo faz parte, o medo sempre vai existir. Só que quando você começar o jiu-jitsu, os benefícios que você vai ter nesse esporte vão superar todos os seus medos. 

O prazer que você vai sentir em treinar vai ser maior do que o seu medo, a vontade que você vai sentir de estar no tatame vai superar o seu medo. A postura que o jiu-jitsu vai te apresentar vai ser maior que seu medo e você vai ver que tudo vai valer a pena.

Hoje em dia também eu tenho um projeto social de defesa pessoal para mulheres vítimas de violência, desde 2017. O nome do projeto é ‘Eu luto por elas’, e ele visa orientação e apresentação de golpes de defesa pessoal. 

Esse projeto tem ajudado muitas mulheres no meu estado, porque eu acredito que defesa pessoal não é somente o combate corpo a corpo. Defesa pessoal é além disso.

Como eu sempre falo nas minhas palestras e aulas, a defesa pessoal começa quando a gente olha no espelho e gosta do que está vendo. Quando a gente tem amor próprio, a gente começa a cuidar, principalmente da nossa defesa pessoal: onde eu estou, com quem eu estou indo, se isso é arriscado pra mim ou não. 

Essa postura que o esporte me proporciona salva a minha vida. Quando eu pratico defesa pessoal ou jiu-jitsu, eu saio de casa mais confiante e essa confiança me faz ficar mais alerta a tudo o que está acontecendo. E o amor próprio também é o principal em tudo que a gente for fazer. Quando a gente tem amor próprio, nós nos saímos melhor em tudo.”

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