Da escola para a vida
Hoje vamos conhecer a trajetória da Sibele de Lima Souza, que tem uma vida dedicada a arte suave, com leveza, dedicação, e muito amor. Vem ver!
Sibele conheceu o jiu-jitsu aos 12 anos, na escola, e teve seus amigos de sala como seus parceiros de treino. “Meu professor de educação física era faixa azul e montou uma turma para crianças. Fiz uma aula e não parei mais”, conta ela.
O jiu-jitsu nas escolas ainda não é uma realidade em nosso país, e com isso muitas crianças não possuem a chance de conhecer o esporte como algo recreativo. É na escola que criamos os laços mais sinceros de amizade, e isso pode tornar a trajetória no tatame mais promissora. “Meus colegas da sala iniciaram no mesmo período. Íamos aos treinos para “brincar”, íamos porque era divertido, e eu não sabia que ali a gente estava construindo um modelo de jiu-jitsu educacional que eu levaria pra minha vida.”
Sibele ajudou a fundar a própria equipe, o que é motivo de muito orgulho pra ela. “Faço parte, da fundação da equipe que leva o nome do meu professor, Sandro Melo, e nunca mudei de tatame.”
Medalhas invisíveis
A faixa preta é graduada em Educação Física, motivada pelos caminhos que a arte suave lhe trouxe. “Escolhi a Educação Física como profissão motivada pelo jiu-jitsu, com isso, minha visão se ampliou e hoje trabalho com oficinas de defesa pessoal e rodas de conversa sobre violência de gênero, o que levou o meu conhecimento do jiu-jitsu para praças, parques, escolas, academias, e até a câmara dos vereadores do município onde moro. Posso dizer que fazer política de enfrentamento a violência contra a mulher através do jiu-jitsu me deu sentido de vida.”
Como muitas de nós, Sibele também viu de perto as dificuldades para competir, na época que competia com mais frequência, não teve tantas oportunidades, mas possui títulos regionais, vários nas categorias e absoluto, e um brasileiro. “Adulta, realizei meu sonho indo competir o Campeonato Brasileiro, fiquei em terceiro lugar, não foi das minhas melhores lutas, mas foi muito importante na minha trajetória. Eu tinha ido e chegado ao pódio.”
Mas não é só de pódio que vive esse coração gigante, Sibele tem feito muito pelo jiu-jitsu em seu estado. “Sonho em me conectar com o máximo de vidas através dos ensinamentos do jiu-jitsu, aprendendo e ensinando, constantemente. Cada encontro que tive e ouvi várias mulheres, foram marcantes para mim. Considero-os como medalhas invisíveis.”
Ensinamentos do jiu-jitsu
Durante todos esses anos Sibele teve apenas duas lesões, no treino, e todas foram tratadas, e isso nunca foi motivo para desistir. “Passa sempre um filme da trajetória pra chegar até aqui. Uma vez, numa final de absoluto, levei uma bate estaca que só vim acordar no hospital. Foi bem tenso esse dia.”
Ela gosta mesmo é de rolar . “A gente sabe que é preciso aprender, se preparar, estudar as posições. Mas eu me amarro mesmo é em lutar até não aguentar mais (rs), o final do treino também sempre reserva um momento de partilha, de fala, acho fundamental essa troca que há no final dos treinos.”
Jiu-jitsu é troca, é recomeço, é fazer amigos que vão pra vida inteira, e com a Sibele também foi assim, “Tenho muito respeito, carinho e admiração por todos que apoiam os projetos e eventos aqui em Alagoas. Tenho construído uma árvore de bons amigos, nosso fruto será próspero se continuarmos buscando o bem comum.”
Inspirações e gratidão
Sibele teve um apoio especial desde sempre, o de sua mãe. “Minha mãe percebeu que o jiu-jitsu estava me fazendo bem, foi a maior (e única) incentivadora no início, comprou a briga com os familiares e colegas de trabalho. Que bom que ela não os ouviu.”
Apesar de sermos minoria na arte suave, Sibele teve a chance de ter uma mulher como inspiração. “Outra pessoa que me motivou muito a continuar foi a professora Bianca Andrade, alagoana e hexacampeã mundial. Cresci com a referência de uma mulher que ganhava mais títulos que os homens em nosso estado, é lindo vê-la lutar. Eu pensava: quando crescer quero ser como ela”.
Hoje o coração de Sibele é só gratidão. Com uma caminhada cheia de desafios, ela superou todos eles, dentro e fora dos tatames, e assim deixamos esse espaço reservado para ela dizer o seu obrigada especial:
Agradeço aos professores do Clube Sandro Melo, eles foram essenciais pra que eu chegasse até aqui, em especial, ao meu parceiro de caminhada, Henrique Camilo, que mesmo divergindo em várias opiniões, levantamos um ao outro, plantando e colhendo bons momentos – como esse aqui que tem o dedo dele (rs). Há quem nos confunda como um casal de tão ligados que somos.
E também às diversas mulheres que encontrei no caminho, ela são como molas para que eu continue reafirmando a necessidade de igualdade e condições efetivas de acesso aos tatames e aos outros meios sociais.
Ao professor Sandro Melo, toda a minha gratidão por me ensinar para além dos tatames, tem valido nossas vidas. Obrigada, mestre!
E a minha mãe, que nunca desistiu das minhas práticas de jiu-jitsu e caminha comigo desde então, devo tudo que sou a Dona Luciene ♥️