O que fazer em caso de violência doméstica durante o isolamento

As primeiras semanas de isolamento nos trouxeram dados assustadores sobre violência contra as mulheres no nosso país. Não bastasse o acúmulo ou aumento de pressão e trabalho por conta da quarentena, de toda responsabilidade compulsória que a mulher possui em nossas sociedade a respeito de tarefas domésticas e cuidado dos filhos, aumentar o período em que os agressores ficam em casa tornou os lares um ambiente hostil.

Problema que não foi observado apenas no Brasil. China e Itália também registraram números crescentes de violência contra mulheres durante o isolamento necessário para redução de contágio do Covid-19. O que nos faz pensar que além de ser um problema a ser superado em questões culturais em vários países, também é um problema estrutural e de saúde e segurança pública. Afinal, impactam na saúde física e psicológica das mulheres, filhos e parentes que se aproximam desses episódios, cabendo ao Estado desenvolver políticas efetivas para o combate.

Entretanto, pensando no descaso e banalização que o atual governo demonstra a respeito da violência contra as mulheres (o próprio chefe do Executivo já foi condenado por incitação ao estupro e naturalizou a violência crescente dizendo que os homens estão batendo nas mulheres porque está faltando pão) devemos desenvolver estratégias de combate ou de antecipação a estas violências pensando no bem-estar e integridade física dessas mulheres. Princípios base ou fundamentos da nossa defesa pessoal no Jiu-jitsu.

Devemos ter sempre em mente que estas mulheres sofrem de maneira progressiva as violências. Como falei no início do texto, a própria conjuntura já é violenta e desgastante. Por isso, devemos cogitar que as mulheres que vivem numa relação abusiva sentem-se sozinhas, e enfrentar o medo e a solidão é o primeiro combate a ser encarado.

Ao identificar uma amiga ou companheira de treino ou não, que esteja passando por isso neste período de quarentena, devemos apoiá-la, acolhe-la e orientá-la ao atendimento jurídico e psicológico, como sinalizou a colega Tatiana Peev no seu texto, apresentando o grupo de apoio Justiceiras. Outras plataformas de apoio também estão disponíveis na internet, como os Apps PenhasSOS MulherSalve MariaMe Respeita ou as plataformas Mapa do Acolhimento e Conexões que salvam. Claro que é importantíssimo que a denúncia seja feita nas delegacias especializadas ou do próprio bairro.

Teremos que pensar também que este período de confinamento potencializa uma série de impedimentos psicológicos à vítima no que diz respeito a dependência financeira ou medo de se manter ou sustentar seus filhos, se for necessário que ela saia de casa. Sua autoestima foi afetada e ela pode acreditar que não é nada sem o agressor. Ela teme por perder sua estrutura familiar construída, de ter sua competência para criar os filhos questionada e de perder as pessoas ao seu redor. Muito cuidado ao criticar ou a menosprezar a situação da vítima. Isso não ajudará em nada.

Para auxiliar na antecipação das vítimas nos casos de violência, é importante observar alguns comportamentos que os agressores apresentam:

Fase 1

Faz piadas agressivas;

Chantageia

Mente

Ignora a mulher

Tem ciúmes

Faz a mulher sentir-se culpada

Humilha

Intimida

Ameaça

Fase 2  

Proíbe a mulher de qualquer atividade

Destrói bens pessoais

Brinca de bater, beliscar ou dar tapas

Fase 3

Dá chutes na mulher

Confina

Ameaça com objetos ou armas

Ameaça de morte

Força relação sexual

Estupra, mutila

Diante da observação dessas atitudes, é necessário criar estratégias para se proteger dentro de casa no período e confinamento.

  • Evitar discutir em ambientes da casa que forneçam algum tipo de objeto que possa ser usado como arma pelo agressor. Um dos ambientes mais perigosos da casa é a cozinha, pois lá estão facas, garfos ou outros objetos pontiagudos;
  • Facilitar o acesso a portas e deixá-las destrancadas, para qualquer emergência ou fuga;
  • Combinar com vizinhas ou parentes próximos sinais sonoros convencionados para alertar que está sofrendo violência (Pode ser bater em panelas, apitar) ou mesmo gritar socorro;
  • Mantenha sempre um número de emergência pronto no aparelho celular, como também crie estratégias de permanecer com o aparelho sempre com você;
  • Deixe roupas e alguns documentos na casa de amigos, para no caso de alguma emergência não seja necessário perder tempo procurando ou arrumando uma mochila;
  • Se possível, fazer uma cópia da chave do carro, pois pode ocorrer do agressor tomar ou escondê-la ao perceber sua intenção de fuga.

Observar os sinais é imprescindível neste momento e sempre se antecipar, são as melhores ações no quesito análise de risco durante a quarentena. Mantenha sempre contato com suas amigas e amigos, desabafe, pois nenhuma mulher é obrigada a passar por nada sozinha, ainda mais em tempos de isolamento social.

Conversando podemos nos fortalecer psicologicamente como também podemos desenvolver melhores formas de se enfrentar os problemas. Informe-se sobre os telefones das delegacias especializadas, do bairro ou disque 180. Denuncie.

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