O jiu-jitsu na periferia: qual a sua função social?

Uma das coisas que mais me encanta no jiu-jitsu é a sua capacidade de alcançar pessoas de todas as idades, gêneros e classes sociais. O jiu-jitsu é conhecido como um esporte democrático por não oferecer nenhuma barreira baseada na diferença entre seus atletas, no tatame é comum vermos atletas altos, baixos, fortes, magros, adultos, idosos, jovens, crianças, enfim! Do menor ao maior, todos são bem-vindos.

Talvez seja toda essa gama de possibilidades que possa ter colaborado para o atual crescimento dessa arte, que tem atraído e encorajado cada vez mais pessoas a sua prática. Mas apesar do crescimento do jiu-jitsu, é correto entendermos que nem todo jovem ou criança, e até mesmo adulto, que se apaixona pela arte tem acesso a ela por não possuir condições financeiras de bancar aulas em uma academia de grande porte. Levando em consideração a falta de incentivo ao esporte no nosso país (a verdade é que isso não acontece somente no jiu-jitsu), seria um sonho acreditar que estes jovens e crianças pudessem ter esse acesso através da escola. A verdade é que a educação por si só em nosso país já precisa de grandes reparos, imagina quando se fala em incentivo à arte e ao esporte.

O alto nível de desigualdade em nosso país tem gerado grandes sequelas sociais, especialmente quando se trata de jovens e crianças das comunidades mais carentes, estando estes muitas vezes às margens da violência e da criminalidade. E foi a partir dessa realidade que o jiu-jitsu conseguiu alcançar as periferias do nosso país, com o desenvolvimento de projetos sociais que levam a arte para estas comunidades com o intuito de alcançar jovens e crianças que poderiam estar nas ruas, ociosos, em evasão escolar ou às margens da violência e colaborar com a formação de cada criança como um todo: pessoal, social, escolar, saúde, esporte. O jiu-jitsu tem conseguido transformar as vidas dessas crianças que muitas vezes precisam de um segundo olhar, levando não só o esporte, mas todos os valores que ele agrega.

Sendo membro de um projeto social, posso afirmar que a função social do jiu-jitsu tem uma responsabilidade muito grande. Dentro de um projeto é cobrado muito mais que técnica e frequência nos treinos, é cobrado bom comportamento dentro e fora do tatame, responsabilidade e comprometimento em tudo o que faz, assiduidade nos estudos (boas notas, frequência escolar), além de muitos valores que são ensinados a serem levados para o cotidiano, como o respeito, a honestidade, a empatia, o companheirismo. É ensinando também a lidar com as frustrações quando algo não ocorre como se espera e a nunca desistir dos objetivos. Muitas vezes esses são critérios para fazer parte de uma equipe, pois muitos projetos na periferia são voluntários, ou seja, não há cobranças em valores, mas há cobranças no caráter e na postura do aluno.

É importante estar atento também para o fato de que, ser professor ou instrutor em um projeto social requer muito compromisso e dedicação, estar ciente de que precisa ser uma boa referência (algumas vezes para quem não tinha referência nenhuma) para os seus alunos, claro, isso se trata do jiu-jitsu como um todo, em qualquer equipe, mas dentro de um projeto social, você atua como um referencial, um espelho, uma inspiração.

Em um projeto, um professor lida muito mais do que com alunos, eles se tornam uma família, e estão sempre atentos ao que você faz e como você faz. A função social do jiu-jitsu dentro da periferia não se trata só de jiu-jitsu, vai muito além de ser um competidor assíduo que destaca o nome da equipe, muito além de se tornar um atleta profissional (na verdade, aqui isso é um bônus), se trata de educação, de esperança, da possibilidade de um futuro melhor, se trata de transformar vidas e formar bons cidadãos para a sociedade.

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