O caso Tayane Porfírio e o futuro da atleta no jiu-jitsu

No dia 10 de maio saiu a confirmação: Tayane Porfírio testou positivo no exame antidoping e aceitou a punição da USADA (Agência Antidoping dos Estados Unidos) de quatro anos fora das competições da IBJJF. Esse tempo começou a contar em junho de 2018, quando a suspensão provisória foi imposta. Portanto, a atleta já cumpriu um ano.

A IBJJF não é signatária do Código Mundial Antidoping, mas adere à lista de substâncias proibidas da WADA (Agência Mundial Antidoping) e contrata a USADA para realizar os testes. Eles são feitos de acordo com uma seleção/sorteio no Mundial. Todo o processo de colete, análises, gerenciamento de amostras e resultados é de responsabilidade da USADA, como informa a IBJJF em seu site.

A aba sobre antidoping no site da IBJJF contém informações sobre o processo antidoping feito no Mundial (com a USADA, como falado anteriormente) e links para o site da WADA, como para o código antidopagem e a lista de substâncias proibidas. No site da CBJJ, ao clicar nessa aba, já é aberto diretamente o site da ABCD (Autoridade Brasileira Controle de Dopagem), onde podemos achar uma versão do código mundial em português.

A substância que caiu no exame de Tayane (feito lá mesmo no campeonato) foi a Nandrolona (Deca Durabolin). Conversamos com o advogado da atleta, Lucas Migon, que esclareceu muitas partes do processo e informou sobre outras questões da carreira da faixa preta.

O processo e a punição

Tayane aceitou a punição, que é diferente de ser condenada. Migon pegou o caso já em andamento e tentou contestar as decisões em andamento, mas segundo ele, a USADA não foi compreensiva em relação a condição da atleta. A atleta vivia uma impressionante crescente no esporte, mas como ela mesma falou em depoimento no Instagram: “mesmo multicampeã, títulos não significam riqueza material”.

A faixa preta ainda morava na Favela da Muzema, no Rio de Janeiro. (Algo que foi, inclusive, um fator importante na sua decisão em ir para Londres, o que vamos abordar mais para frente.) A defesa tentou buscar a linha de que a atleta teria feito uso negligente da substância. Além disso, de que não tinha informações/recursos necessários tanto antes da acusação, como depois, para acompanhar o processo, ou fazer outro exame para contestar o resultado daquela amostra. Segundo Migon, cada exame desse tipo pode custar cerca de mil dólares. Segundo Migon, nenhum dos argumentos foi aceito pela USADA.

Ainda em seu depoimento no Instagram, Tayane falou: “Ao longo desse ano de processo, eu nunca tive verdadeiramente uma chance. Eu poderia ter presenciado a abertura dos frascos com as minhas amostras, mas não tinha recursos para voltar para a Califórnia, depois do Mundial, só pra isso. Em nenhum momento me foi oferecido o direito a um advogado. Não fosse meu empresário, que é advogado também, eu sequer teria tido qualquer defesa.”

A defesa e a própria Tayane também contestaram o fato de que nenhuma outra substância foi encontrada no exame. Medicamentos que ela tomava para tratar a lesão que teve em 2017, por exemplo, ou outros, para controle da depressão. No Instagram, ela disse: “Eu tinha em minhas mãos um documento de acusação com 10 páginas em inglês – idioma que eu só comecei a estudar no meio de 2018. Mesmo assim, colaborei desde o primeiro minuto com a USADA, lhes dando acesso não só a meus médicos, como histórico hospitalar, exames e lista de medicamentos/suplementos. Não foi o suficiente para eles.”

Além disso tudo, a atleta e seu advogado também falaram sobre a possibilidade que Tayane teria de realmente ganhar dinheiro no jiu-jitsu, ou seja, lutando pela UAEJJF. Mas o limite da Federação é de 90kg para o feminino e a faixa preta não luta desde 2016. Tayane disse: “Eu sou invariavelmente a atleta maior e mais pesada da categoria em todos os campeonatos que disputo. Se nem para vencer o bullying ou para competir por premiações robustas eu jamais fiz uso de qualquer substância ilegal, não seria após um ano onde mesmo lesionada eu dominei o cenário competitivo – um ano onde também testei limpo em todas as oportunidades em que fui examinada.”

Migon afirmou que ainda estuda recorrer junto ao CAS (Court of Arbitration for Sport), pois a defesa contra a USADA ficou prejudicada pela falta de recursos financeiros. “Tudo podia ter sido esclarecido lá atrás com um exame, mas ela não tinha e não tem como pagar por isso”, ressaltou.

Ele comentou também sobre o amadorismo que ainda vivemos no esporte. Deixou claro que não é contra os exames antidoping, que se mostra um trabalho fundamental, mas sim a maneira como o processo é feito. Em relação a isso e outros aspectos como a emissão de vistos para atletas que querem lutar o Mundial, ressalta que talvez falte uma posição institucional maior da IBJJF. Melhorar aspectos que já existem, visando sair do amadorismo.

O futuro de Tayane

A punição da atleta engloba a perda dos títulos que conquistou no Mundial (peso e absoluto) e qualquer outro durante esse período, além de estar fora das competições da IBJJF por quatro anos (início em junho de 2018). Porém, Tayane Porfírio pode competir outros eventos, fazer lutas casadas e, assim, não interromper completamente sua carreira como competidora.

A faixa preta não faz mais parte da Alliance e agora defende a bandeira da Gracie Barra. Foi morar em Londres e treina com o professor Lucio “Lagarto”. Tayane chegou a fazer um desabafo em suas redes sociais sobre a decisão de mudar, para tentar uma vida melhor para ela e sua família. Se emocionou muito ao falar sobre Gigi Paiva, seu professor na Alliance, que chama de pai.

A faixa preta deve voltar a lutar no segundo semestre de 2019. Além disso, a possibilidade de uma luta casada com Gabi Garcia é alta. Vamos aguardar para saber em qual evento e qual país será. Mas as negociações estão sendo feitas. A certeza que temos é que a carreira de Tayane não parou por aí. A comunidade do jiu-jitsu agradece, pois queremos sempre ver grandes nomes do esporte em ação.

Você encontra o informativo da USADA sobre o caso neste link.

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