Jiu-jitsu nas escolas: é possível?

Muitos entusiastas ou praticantes apaixonados responderiam ao título de nosso texto com um belo e expressivo sim! Nossas experiências pessoais de superação, melhora da flexibilidade, autocontrole, equilíbrio, melhora na coordenação motora fariam com que se recomendasse ao ambiente escolar, para nossas crianças em especial, de todas as idades, o bom e velho jiu-jitsu brasileiro ou Brazilian Jiu-jitsu.

São indiscutíveis as possibilidades que a arte suave pode proporcionar quando estudada, planejada e executada, dentro de objetivos gerais e específicos, num ambiente que favoreça para que isto seja realizado. Só devemos entender alguns quesitos: qual a função social da escola e que tipo de abordagem deverá ser priorizada neste ambiente? Não apenas isto, devemos entender, sobretudo, nossas escolas estão preparadas para oferecer o conteúdo lutas?

Algumas perspectivas educacionais dirão que a escola forma ou prepara os indivíduos para o mercado de trabalho. O que se tem de negativo nisso? Nada! Mas, devemos pensar: onde se trabalhará, nesta escola, questões como ética, cidadania, a formação humana de uma forma geral, se seremos preparados apenas para o trabalho? E é pensando nisso que perspectivas contrárias afirmam que a escola deve se apropriar dos conteúdos científicos, produzidos historicamente pela humanidade, focando a ação educativa na humanização destes indivíduos por meio da identificação destes elementos culturais acumulados. A ginástica, a dança, a luta, o esporte, o jogo, entre outros conteúdos, favorecendo a formação de um indivíduo cooperativo, que olha o outro com mais empatia.

Não é isto que pregamos em nossas academias Brasil a fora? A formação de um artista marcial que se preocupa com seu parceiro de treino, que não busca a vitória a qualquer custo? Fair play? Um jiujiteiro mais ético? Sim! E de que adianta se carregamos estes princípios apenas nos nossos discursos se nossa prática se baseia, apenas, na superação do adversário? Onde deveremos trabalhar a tão comentada “filosofia do jiu-jitsu”? Claro que o ambiente privado de ensino, as academias, se organizam e possibilitam o ensino e aprendizagem voltados para estes objetivos competitivos. Obviamente, alguns destes ambientes também trabalham as competências éticas e morais das artes marciais. Devemos entender que algumas instituições, como as academias, estão altamente preparadas para oferecer as técnicas mais avançadas como também o conteúdo histórico/filosófico/ético/conceitual do nosso jiu-jitsu.

Se introduzirmos o jiu-jitsu nas escolas, como algumas perspectivas educacionais pensam e determinam o trato pedagógico, com o único objetivo de preparar novos atletas campeões, estaremos anulando as diversas possibilidades que esta rica arte pode nos proporcionar. Foi exatamente o que um estudo realizado no ensino fundamental 1, numa escola do Paraná, quis demonstrar. Eles constataram que a utilização da ludicidade e da criatividade do jiu-jitsu no ambiente escolar foi altamente positivo. Possibilitou experiências boas até aos alunos que não possuíam conhecimento técnico suficiente para disputar, digamos, uma competição, com diversas vivências interessantes dentro da arte suave.

E se pensarmos nas turmas mais avançadas como ensino médio, se uma parcela considerável dos alunos não conhece as técnicas do jiu-jitsu, como prepararíamos estes praticantes com tantos eventos nos calendários escolares? (Provas, gincanas, outras atividades curriculares). Estas experiências lúdicas podem até levar mais pessoas a procurar o jiu-jitsu nas academias, por conta da satisfação e prazer alcançados nestas atividades.

Dentro de uma possibilidade de intervenção do jiu-jitsu nas escolas, priorizando o ensino apenas competitivo, estaríamos também, de certa forma, excluindo as diversidades que o ambiente escolar nos apresenta: meninos e meninas Cis, LGBTS (sim, independente das suas convicções eles estarão lá!) não experimentarão, da mesma forma, da experiência competitiva. O ambiente escolar também carrega todo o preconceito e discriminação perpetuado em nossa sociedade, o que exigirá do profissional uma melhor compreensão das particularidades das crianças e jovens. Sabemos que as próprias federações passam por alguns pormenores na realização de campeonatos, por conta da falta de um considerável número de inscritos em categorias femininas. No caso dos LGBTS, nem precisamos dizer que muito deste público já participa das competições. Só nos resta refletir: Estão vivenciando de uma forma positiva?

Podemos pensar em algumas questões até aqui:

  • A escola carrega algumas particularidades que nos faz pensar que o jiu-jitsu neste ambiente necessita ser pensado, planejado e organizado de uma forma diferente da que abordamos nas academias.
  • Quando falamos de escolas, devemos pensar na diversidade de indivíduos que este ambiente tem e que as estruturas nem sempre estão preparadas para oferecer o jiu-jitsu apropriadamente (falta vestiário, materiais).
  • O planejamento focado no ensino técnico/competitivo numa escola favorecerá à uma parcela mínima das crianças.

Enfim, nada impede também que um professor de jiu-jitsu, fora dos horários das aulas, desenvolva um trabalho similar ao de uma academia, numa escola. Não estou aqui para afirmar o trato perfeito da arte suave nas escolas, só estou convocando os caros leitores e leitoras a pensar nas particularidades do ambiente em questão e que, o esporte não pode ser pensado como remédio para as mazelas que enfrentamos na nossa educação. E por que?

Esta última questão nasce quando se observa o contexto de precarização e abandono do estado com nossos professores e alunos. E, se estamos falando de oferecer jiu-jitsu “para todos” não podemos de forma alguma deixar de fora estes dados. Nesta pesquisa (que você pode aqui) foram levantados problemas sérios em nossas escolas, principalmente para os mais pobres. Como alta rotatividade do quadro de professores, menos alunos interessados nas vagas existentes, diretores menos experientes e baixos salários. Uma grande parcela dos debates a respeito da inclusão do esporte nas escolas anula ou não questiona estes dados.

Portanto, caros amigos e amigas, quando pensarmos no jiu-jitsu como instrumento para fortalecer a educação no nosso país, devemos levar em consideração os diversos problemas que a própria educação já apresenta. Claro que os benefícios da arte suave preparariam melhor nossas crianças. Isto é incontestável. Entretanto, todas as instituições, família, escola e Estado devem estar juntos em prol deste objetivo. O jiu-jitsu sozinho não tem o poder de mudar o mundo. Concorda?



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