O equilíbrio entre o peso e o amor de ser árbitra, Morena Ortiz conta pra gente

Se no Jiu Jitsu já sentimos um pouco de dificuldade para treinar pelo quesito ser mulher, com comportamentos preconceituosos e muitas vezes subestimadas, imagine você como deve ser para uma árbitra. Nós já sabemos que ser árbitro tem uma responsabilidade imensa, e quando se trata de ser uma árbitra, ou melhor, a única árbitra até pouco tempo na confederação Brasileira de Jiu Jitsu, isso tem um peso ainda maior.
No bate papo de hoje, eu conversei com a “Morena” Ortiz, assim ela é conhecida pela maioria no meio do BJJ, faixa preta da Gracie Barra e arbitra da IBJJF.
Morena respondeu algumas perguntas que falam um pouco da sua trajetória, de como pode ser difícil conquistar espaço e respeito no Jiu Jitsu para as mulheres, mas não impossível quando você persevera e se dedica.

1. Conte-nos um pouco da sua trajetória na arte suave
Minha vida no Jiu Jitsu deve ser parecida com a de muita gente que adora treinar o dia todo, estar na atividade, e estar feliz. Tinha Jiu Jitsu na minha academia, mas eu treinava capoeira, era o “must” pra mim.

Uma tarde depois do Treino de Capoeira o Duda (Eduardo Alexandre Machado) insistiu (ele tentou várias vezes) em me mostrar uma raspagem de gancho, enfim aceitei, e fiquei impressionada, achei fácil, gostei da sensação, pois o Jiu Jitsu só da o real sentimento na prática, ai resolvi treinar por um tempo por curiosidade mesmo, sem deixar nada de lado, capoeira e sobretudo, maromba, corridas etc. E igual diz a letra do Caetano:”Aos poucos vi a minha vida amarrada no seu passo”, o Jiu Jitsu é muito maneiro, nunca acaba, tem diversão, inteligência e nunca é igual.

O Pedro Pacheco Fernandes “Pedrinho” foi meu mestre, agora mora na Nova Zelândia, e ele é o “Must”, no ano que ele mudou pra lá, foi quando peguei a faixa marrom e já entendia um pouco melhor o mundo, entender que o Jiu Jitsu tem que fazer pontes e não muros. Depois dele tive muitos professores importantes na minha vida e no meu aprendizado, tem gente que até me zoa por isso, mas como sempre, eu sigo em frente e não ligo.

A Gracie Barra é minha equipe, e o mestre Carlinhos sempre uma fortaleza de sabedoria, é o nosso mestre. Sinto muita felicidade e sorte por esses encontros tão importantes, até hoje, quando possível treino com os alguns desses professores, por exemplo, o Pelezinho da Black Gym.

 

2. O que levou você a querer arbitrar no Jiu Jitsu? 

Eu fiz educação física, e entendi desde o início que cada modalidade é norteada por sua própria regra. O Jiu-Jitsu não é diferente. Na época da Liga Catarinense de Jiu-Jitsu, na qual trabalhei na organização, a intenção da liga era fortalecer as competições e com isso o esporte em si, eu era faixa roxa na época, tivemos algumas clínicas de regras e arbitragem com o Professor Paulo Sérgio, que era o diretor de Arbitragem. Quanto mais você entende a regra, melhor você luta.
Na faixa marrom fiz o curso da IBJJF/CBJJ com o mestre Álvaro Mansur, nesta mesma visão.

Depois, na faixa preta para fazer a diplomação da CBJJ de faixa preta, é obrigatorio o curso e as provas.
E eu nesta oportunidade foi aprovada com nota para árbitro, nessa época eu não tinha a noção de que era um curso muito difícil de aprovação, não pela dificuldade mas pela falta de conhecimento e entendimento da regra pela maioria, sobretudo nas provas de vídeo.

Um tempo depois, tivemos um campeonato Sul Brasileiro, e o mestre Álvaro me convidou para a reunião de árbitros que antecede o campeonato, e nesta ocasião, eu soube da minha classificação no curso e mestre Álvaro praticamente me “obrigou” a fazer o estágio neste evento (risos), falando do meu potencial, perfil e etc.
Não há mulheres arbitrando, esse é o primeiro muro.
Sem a menor intenção, só fui me dar conta que eu tinha atuado como árbitro, quando acabou o campeonato.

Após isso entendi quanto é necessário estudar, ver lutas, treinar, fazer as qualificações para estar apto a conduzir a luta, e depois de passar pela experiência, pelo”teste”, várias perguntas surgiram na minha cabeça:

Gostei disso? Tenho competência? Faço bem? Tô preparada? Sou imparcial? O stress altera meu discernimento? E a concentração necessária? Arbitrar nesse mundo masculino, onde até as atletas do feminino estranham? Tenho a dedicação necessária? Quero pagar esse preço? E muitas outras questões.

E o que mais “pesa” é que o árbitro decide, muitas vezes, o destino de uma luta, e assim dos atletas.
Por isso o acerto é fundamental, fato que resisto desde 2009, e gosto muito.

 

3. Você ja enfrentou ou enfrenta algum preconceito, qual sua reação diante disso?

Evidentemente que sim. O Mundo é preconceituoso em relação a quase tudo. O tempo e a trajetória diminuíram um pouco isso, você precisa se provar! Atualmente os professores têm aprendido a regra, pra facilitar o nosso trabalho.
Esse é o grande problema, ignorar, não saber o regulamento, aí quando a decisão do árbitro não converge com a opinião deles, tá estabelecido o problema. E uma figura feminina conduzindo o trabalho nesse universo masculino é muito desafiador.

Quanto ao meu comportamento em relação a qualquer desafio, especialmente esse, procuro me preparar cada vez mais e humildemente manter o bom humor. Sempre faço uma análise de qualquer situação, seja boa ou ruim e seja qual for, sempre será ‘fortalecimento’, um eterno “treino”, é Jiu Jitsu, então precisa vivê-lo!

 

4. O que é preciso para ser uma árbitra?

Para se tornar um árbitro, é necessário ser faixa preta, no mínimo marrom, (diplomado) com qualificação para árbitro, através de curso, prova teórica e de vídeo , obtendo a nota mínima, que atualmente acho que é 8,5.
Este curso da CBJJ é muito bom, e o terrorismo de muita gente, pois é muito difícil alcançar aprovação.
Depois disso, haverá um estágio em algum campeonato, para os que tiverem perfil, e a partir daí vai de acordo com o empenho e desempenho.

 

5. Se você pudesse aconselhar mais mulheres que queiram seguir essa profissão de arbitrar, o que você diria?

Geralmente não aconselho nada para ninguém (risos), porém, no caso da arbitragem do Jiu-Jitsu, acredito que antes de tudo tem que correr atrás de treino, treinar e treinar, entender a luta, entender a aplicação da regra na prática.
Sem obviamente falar nas qualidades de carácter e ética.

Estar preparado para trabalhar sobre extrema pressão, gritaria, barulho, cansaço etc.
Mas sobretudo cada um tem que gostar muito do que faz, é a primeira etapa pra fazer bem, a dedicação, concentração, empenho são características de vencedores em qualquer assunto.

 

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