Não confunda liberdade com libertinagem

Outro dia eu li a seguinte frase: “se colocou brasileiro em qualquer coisa, vira zoeira. BR-HUEHUE”. Parei para pensar sobre o nosso jiu-jitsu. A grande maioria de nós pratica hoje o BRAZILIAN JIU-JITSU e eu devo dizer que a influência brasileira nessa arte tão antiga teve seus pontos positivos e negativos.

Como ponto positivo observamos uma grande evolução técnica, e existem muitos outros, mas em contrapartida estamos vendo os ideais e práticas ligados ao respeito, disciplina e hierarquia se perdendo. Eu não faço generalizações, porém isso tem acontecido e temos que discutir o assunto.

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

É sabido que brasileiros são muito amistosos, porém também se sabe que, às vezes, (muitas) essa amizade nos faz perder um pouco o senso de respeito. Chamamos nossos amigos por xingamentos, quanto mais amigo mais “cabeludo” é o tratamento. Não se enganem, eu também faço isso, mas o que não pode acontecer é esse tipo de “liberdade” ser levado para dentro do tatame.

O tatame é um lugar de respeito, é um lugar de aprendizado. Todas as artes marciais (artes da guerra) têm ideais muito fortes ligados ao respeito, disciplina e hierarquia. Um exército sem esses ideais não sairia vitorioso de nenhuma batalha. É necessário que seja assim para a formação adequada dos que chegam, e assim garantir que “as futuras gerações” continuem fortes e vitoriosas.

Logo, esse comportamento de levar essa “liberdade” que temos com nossos amigos para dentro do tatame é muito prejudicial. Fazer amizades no jiu-jitsu é muito importante e é uma das melhores partes de treinar. Ver nossos companheiros como família e estar sempre dispostos a ajuda-los é maravilhoso, mas não podemos deixar esse “jeitinho” brasileiro comprometer nosso comportamento dentro do tatame.

Então somos amigos sim, mas dentro do tatame somos colegas de treino primeiro.

No tatame

Nunca é demais ressaltar que o respeito com o tatame e dentro do tatame deve sempre imperar sobre todas as outras coisas, inclusive as amizades. Devemos deixar do lado de fora nossa intimidade e não agir de forma errada com a liberdade que temos com os colegas. Liberdade não é libertinagem. Só assim saberemos a diferença entre o amigo e o colega de treino e poderemos respeitar devidamente e hierarquia que existe ali dentro do tatame para ter sempre uma aula proveitosa.

Primeiramente, deve-se pedir licença a que está conduzindo o treino para entrar no tatame, da mesma forma se for preciso sair. Um soldado não se retira de seu treinamento no momento que bem entende, mesmo que ele seja amigo do general. Depois precisamos cumprimentar os que já estão ali, se preparando para a aula, sempre respeitando a ordem de graduação. Os soldados devem sempre prestar continência aos seus superiores.

Dentro do tatame a faixa é imperativa. Os menos graduados têm que respeitar os mais graduados. Os graduados são fonte de informação, são exemplos (pelo menos deveriam ser) a serem seguidos. Não digo apenas exemplo como lutador, mas como pessoa, exemplo de conduta.

Quando um graduado age de forma inadequada isso reflete em todos os que são menos graduados, e faz com que uma conduta errada seja concentrada e perpetuada. Como num exército, se um oficial se comporta mal, logo seus subordinados estarão se comportando da mesma forma, e qual será o futuro desse exército se isso continuar assim? O caos!

Se os graduados se comportarem de maneira adequada, então esse comportamento será difundido entre os menos graduados e sempre, todos que chegarem, se medirão por eles e a equipe prosperará e será um ambiente sempre positivo e produtivo.

Os graduados têm por obrigação ser exemplo: tratando os menos graduados com respeito, se dando o respeito e sempre estando disponíveis para ajudar os colegas. Os menos graduados, não só faixas brancas, tem por obrigação de respeitar e ouvir os mais graduados e as orientações que eles passam.

O respeito com a hierarquia não é só para os faixas brancas respeitarem os faixas coloridas. Toda a cadeia de graduação deve seguir sua ordem.

Logo, por mais intimidade que você tenha com seu amigo, dentro do tatame é imperativo que haja o respeito, inclusive no linguajar usado. Dentro do tatame brincadeiras que menosprezem o colega, zombam de questões físicas, ideológicas, ou psicológicas, não devem existir, de maneira nenhuma. E esse tipo de comportamento, se houver, deve ser repreendido, e essa é mais uma obrigação dos graduados.

O respeito com quem está conduzindo o treino é primordial, e mesmo sendo um indivíduo menos graduado que está à frente do treino, todos devem ouvir e acatar suas palavras como se fosse o mestre, afinal de contas, quem está conduzindo o treino tem a confiança de seu mestre para executar tal tarefa.

Independente se o graduado já repetiu a técnica que foi passada mil vezes, ele deve ser o primeiro a dar o exemplo e executar o treino como foi passado, mesmo que seja um armlock simples da guarda.

Graduados, lembrem-se: os menos graduados estão sempre observando vocês. Vocês são molde e meta para todos que chegam. Não sejam só bons lutadores, sejam bons exemplos de conduta. Inclusive para as crianças que são, mais ainda, espelhos de nós.

Equipe forte vence as batalhas

Deixando o excesso de liberdade fora do tatame todos tem a ganhar. Os treinos serão sempre focados na evolução do jiu-jitsu de cada um presente. O clima sempre estará favorável e assim todos tendem a evoluir mais, e mais rápido, sem distrações. O tatame é lugar de jiu-jitsu!

Acredito que isso não abala em nada a amizade entre os colegas, inclusive as fortalece, pois se estamos entre amigos para treinar é porque queremos evoluir o jiu-jitsu e um ajudará o outro  com foco. E enquanto meu amigo evolui eu evoluo com ele.

Pessoal, não podemos deixar que as amizades interfiram no andamento adequado das aulas,  isso enfraquece a equipe. Vamos respeitar os colegas, cada um fazendo sua parte para  fortalecer sua equipe e, consequentemente, o esporte que tanto amamos.

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