Como qualquer esporte marcial, o jiu-jitsu também tem suas polêmicas. O tempo de graduação, por exemplo, é uma questão bastante controversa. Algumas pessoas se graduam mais rapidamente e outras levam mais tempo. Quanto tempo se leva para se aprender em um nível técnico suficiente para ser faixa preta? Há pessoas que obtiveram a faixa preta em três anos e outras que só conseguiram depois de mais de vinte anos.
Um outro exemplo é a aplicação de algumas finalizações mais “perigosas”. Existem posições que são “proibidas” para algumas faixas mais iniciais e permitidas nas mais avançadas. E outras que não são permitidas em faixa nenhuma. E não há consenso sobre a questão. Para muitos certas chaves e alavancas deveriam ser liberadas ao passo que há muitas pessoas que pensam que não.
Assim como acontece em todos os esportes marciais, o jiu-jitsu também tem seu sistema de graduação e, polêmico ou não, é o que de forma geral se segue. Mas, neste texto, eu gostaria de falar sobre uma questão que por vezes pode ser delicada nas academias, ou seja, das relações entre pessoas mais graduadas e os menos graduados. Assim como é comum para as artes marciais, o jiu-jitsu gradua seus praticantes regulares. Ainda, dentro de uma mesma faixa do jiu-jitsu, é comum se observar graus (1 a 4 graus) para se diferenciar os praticantes que estão em teoria na mesma fase de aprendizagem da arte suave.
Neste ponto, seria justo se perguntar se a graduação funciona como uma hierarquia no jiu-jitsu. E, de fato, a graduação é um quesito o qual é muito respeitado na arte suave. Por exemplo, um faixa roxa pode chamar um faixa azul para um rola, mas não o contrário. Sim, se você pensou “coitado dos faixas brancas!” estamos então em sintonia de pensamento.
Mas a graduação não significa direito ao prevalecimento. Nem nunca significou. Entretanto, vemos muitas polêmicas dentro deste item do jiu-jitsu. Vamos ver algumas:
1- Mais graduados devem, em teoria, ter maior conhecimento que os menos graduados: É fato que praticantes em graduações maiores deveriam saber mais do que os praticantes menos graduados. Mas a arte suave é complexa e, seus caminhos, por vezes, misteriosos. Nem sempre um mais graduado saberá mais do que um menos graduado. Naturalmente que não estamos falando de aberrações do tipo um faixa azul saber mais do que um faixa marrom ou preta, mas de casos menos problemáticos. Um faixa branca pode sim, saber mais do que um faixa azul. Assim como um azul pode saber mais do que um roxa. Mas o problema relacional se estabelece quando um lado se sente inseguro ou não entende que a profundidade do conhecimento irá depender do quanto cada praticante se dedicar e se propuser a aprender. Seja como for, o conhecimento deve trazer humildade e não soberba. Respeite os mais graduados.
2- Menos graduados, ainda que acreditem saber mais, devem respeito aos mais graduados: Se você é menos graduado e sabe mais que alguém que é mais graduado, parabéns! Continue se dedicando e aprendendo, mas sem nunca faltar com o respeito ao mais graduado. Não entre em disputas de egos e vaidades. Cada um aprende a arte suave para si e não para se exibir. Troque experiências com os mais graduados, pois é na troca que irá se construir o jiu-jitsu. E, neste aspecto, o jiu-jitsu é incrível! Ele é um esporte de disputa individual, mas que depende de um coletivo forte!
3- Fazer rolas duros não significa que você não deva respeitar: Se, por exemplo, eu sou faixa branca e finalizo um faixa roxa, isto não significa que eu deva falar mal do jiu-jitsu de quem treina comigo. Durante anos treinamos com as mesmas pessoas. Tem dias que finalizaremos e tem dias que seremos finalizados. Se por finalizar um colega mais graduado você se vangloriar, então seu jiu-jitsu está muito deficiente, mas na parte ética, o que é muito pior. Equipes tem diferentes pessoas, com diferentes forças, técnicas e biotipos. Sua evolução depende de treinar com todos e com muita consideração. Finalizar um mais graduado e fazer rolas duros não deve ser uma porta de entrada para falações e muito menos para egocentrismo.
4- Não seja uma pessoa provida de preconceitos: Preconceitos existem em todos os lugares. Ainda que seja difícil admitir, todos temos os nossos preconceitos. Mas podemos trabalhar e melhorar esta questão também. Imagine a seguinte situação: duas pessoas faixas pretas estão prontas para dar aula sendo um homem e a outra uma mulher. Qual destas pessoas você escolheria. Se a escolha for com um fundo de preconceito, a sua relação é problemática com o coletivo e com você. E se fosse entre um competidor famoso e outro reconhecidamente bom na didática de ensino da arte suave?
5- O bom senso: Nos dias atuais falar em bom senso já é um aparente contrassenso. Mas as relações entre mais e menos graduados deve sempre ser regida por bom senso. Se o seu professor ficar mais velho e não tiver mais tanta força o que você vai fazer? Vai rolar para finalizar ele dez vezes? Se você é mais graduado e não está dando o exemplo, vai exigir o correto dos menos graduados? Parece ser uma questão aparentemente simples, mas usar o bom senso é cada dia mais difícil no mundo pós-moderno.
Como proceder então nas relações com mais e menos graduados? Simples! Sempre mantenha o respeito, escute com atenção (se servir use, se não apenas agradeça), honre seus professores e professoras, deem um bom exemplo! Desta forma as relações tendem a ser constantemente saudáveis. Lembre-se que ninguém sabe tudo e ninguém jamais irá dominar 100% de tudo do jiu-jitsu. Desta forma sempre existirá espaço para aprender e evoluir, seja com uma pessoa mais graduada ou com uma menos.
Bons, respeitosos e saudáveis treinos! Bom fim de semana à todos. Oss
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