As três peneiras de Sócrates no jiu-jitsu

Hoje quero falar sobre o convívio de homens e mulheres no Dojo. À primeira vista, a interação pode parecer algo comum, que dispensa comentários. Entretanto, existe nessa relação, uma complexidade além do simples contato nas aulas.

Uma questão que durante certo tempo, me impedia de praticar o jiu-jitsu, foi o receio de treinar com homens. Receio que tocava desde o medo de me machucar, por serem mais fortes, até a receptividade, pois no início eu seria o “bendito fruto” entre os homens. Qual seria a reação deles ao treinarem comigo? E a minha reação ao treinar com eles? Eu enfrentei esses medos e fui logo tratar de aprender na prática como funciona esse convívio.

A princípio só quem está no tatame sabe como é o respeito que há lá dentro, o jiu-jitsu não é uma modalidade nova de esporte, ele é uma arte marcial milenar e traz consigo uma filosofia que preza a ética, o respeito, a cordialidade e outras virtudes. No entanto, ocorrem situações em que há um desequilíbrio nesta harmonia e alguns problemas podem acontecer. Não que isto impeça alguém de treinar, na verdade, é uma experiência nova para a evolução de cada um. Não estou aqui culpando homens ou mulheres, por algum eventual desgaste nas relações entre os praticantes de jiu-jitsu. Quero apenas ressaltar, que todo ser humano é um universo diferente, com particularidades e nesta mistura de “mundos pessoais” é o respeito e o bom senso (valores universais) que mantêm o equilíbrio da diversidade.

O convívio diário pode trazer palavras mal entendidas ou conversas fora do tatame, que acarretam mágoas. Para se evitar esses problemas de relacionamento no Dojo, devemos adotar o célebre princípio das “três peneiras” de Sócrates: a verdade, a bondade e a utilidade. Se não tem certeza de que seja verdade o fato a ser contado, cale-se. Se o que irá dizer não é benéfico, cale-se; e, finalmente, se o que irá dizer não é útil, cale-se. Seguindo isso, é possível evitar atritos entre os parceiros de treino, quando adotamos esses três princípios de análise dos fatos; se o assunto não passa em uma das três “peneiras”, ele não deverá ser espalhado.

Esta postura dos praticantes de jiu-jitsu, também se justifica na própria essência do Dojo, “lugar do caminho”, em que se busca a contínua evolução do ser humano. Também se observam às vezes disputas mais acirradas no tatame entre homem e mulher; normalmente alguns homens usam da força durante o treino, porque “não aceitam perder para uma mulher”, causando inclusive lesões em ambos e  ruptura na harmonia do Dojo.

Alguns flertes – fato normal entre pessoas – infelizmente acabam em conversas não muito agradáveis (fofocas), não estamos generalizando é claro, porque é comum um casal se conhecer no treino e ter uma relação duradoura. Portanto qualquer espécie de relação entre colegas de treino, deverá ser pautada pelo respeito, ética, transparência e harmonia, impedindo que alguém abandone a arte suave, apenas porque, algum relacionamento ali iniciado, não obteve sucesso.

Devemos nos lembrar de que qualquer relacionamento humano para gerar bons frutos, deve ser baseado nos princípios da ética e a figura do Professor se mostra muito importante para se estabelecer harmonia no Dojo; o Sensei é o fiel da balança, porque ele é ao mesmo tempo, pacificador e incitador dos seus alunos, visando a levá-los à desejada evolução. Podemos afirmar que o praticante de jiu-jitsu, homem ou mulher, deverá adotar em seu cotidiano a análise das “três peneiras” de Sócrates quanto ao relacionamento com os demais, nunca se esquecendo também da filosofia japonesa dos cinco S: Seiton, Seiso, Seiri, Shitsuke e Seiketsu (quais sejam: arrumação, limpeza, utilização, autodisciplina, e saúde/higiene), afinal “mens sana in corpore sano” é a chave da felicidade e do sucesso.

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