Homens x Mulheres: bater ou não bater, eis a questão!

O golpe está encaixado, você está esperando o cara bater, usando o último fôlego pra manter a pegada e nada… de repente, o cara apaga. Pode isso, produção??? Não, não pode. Meninos, “keep Calm” e leiam até o fim!

Se você não é desses caras que se nega a bater para mulheres, PARABÉNS! Precisamos de mais homens como você nos tatames, homens com consciência de que é desnecessário medir força com elas. O fato é que os homens se aproveitam dessa vantagem, e isso realmente acontece, infelizmente não é pouco, meu camarada! Na verdade, eu achava que isso acontecia apenas comigo, mas eu descobri que é unânime no mundo do jiu-jitsu feminino.

Desde que eu peguei a faixa azul, notei que os meninos acham um vexame ter que dar “três tapinhas” para as meninas. Passei a perceber isso quando mudei de equipe e meu mundo de treinos era rodeado por homens, inclusive meu esposo. Ele sempre fez rolas firmes comigo, acredito que conquistei a admiração dele nos meus rolas, que ficaram cada vez mais sérios.

Dentro desse universo masculino, eu me obriguei a refinar minhas técnicas, pois se eu precisasse de força “estaria no sal” (risos). Notei isso pela primeira vez quando encaixei uma “kimura” (chave de braço) no meu amigo de treino e ele simplesmente não bateu. É claro que eu não o machuquei, mas mantive o golpe encaixado e não abandonei a posição. Eu duvidei que estivesse pegando, mas depois eu confirmei que a posição estava correta e ele se fez de machão.

No pós-treino, eu conversei com alguns amigos de treino e eles assumiram que não batem pra mulher. Fiquei verdadeiramente chateada e pensativa por muitos dias. Muitas vezes, quando o professor me pede para rolar com “fulano” ou “ciclano” eles já começam na grosseria e ‘forçarada”, finalizam o quanto antes. Assim, nos tornamos sobreviventes no rola, enquanto aprender que é bom, nada… eu sei o que é isso, é medo! Medo de ser pego por uma menina e ter que bater, parte de um pensamento infeliz!

Para os machões de plantão, eis aqui o relato não de uma, mas de muitas mulheres que já passaram por isso, e pior: teve mulher que sofreu represália por ter apagado um graduado, com proposta em dinheiro para quem apagasse a referida atleta, dá para acreditar nisso? O mérito é dela! O golpe está encaixado então por que não bater? Quando ouvi esse depoimento eu pensei: “gente, isso não combina com a nossa arte!”

Não dá pra entender como essas situações, dentre outras, ocorrem no mundo do jiu-jitsu. Não mesmo! Pois quem treina passa a ter uma filosofia de vida, passa a mudar de dentro para fora, mas quando essas atitudes acontecem, e pra piorar dentro de um tatame, parece soar como piada, mas não é!

Para ouvir mais relatos sobre isso, parti da seguinte pergunta: no rola, entre você e uma mulher, se ela encaixar o golpe, você bate ou usa da força para sair do golpe? Veja algumas respostas que recebi:

– Olha não é desmerecer, mas homem não gosta de ser finalizado por mulher.

– Bato de boa, para mim não faz diferença.

– Você treina jiu-jitsu, não balé.

Parece clichê, mas é uma situação que deixa qualquer atleta feminina pra baixo, as mulheres ficam desmotivadas, acreditam que não estão evoluindo e desistem de treinar aquele golpe porque “não está funcionando”, quando na verdade não depende apenas do esforço físico dela e, sim, da compreensão do parceiro de treino de deixar fluir, entender que encaixar um golpe é mérito daquele ou daquela que o fez e isso nada mais é que evolução.

Sim, ambos evoluem, ela aprende a aplicar o golpe e você será o “Cavaleiro de Ouro”, pois não cairá no mesmo golpe novamente, tornando isso um ciclo em que os rolas entre homens e mulheres não serão apontados pelo sexo ou por medir forças, mas sim pela capacidade de cada um de executar as técnicas, tanto de atacar quanto de defender.

É gratificante fazer um treino no qual você baila com as técnicas sem medir força para conseguir aplicá-las, ser elogiada por sua evolução. São frutos a se colher, e neste caso, quando uma equipe é sólida, com um mestre que incentiva e apoia o jiu-jitsu feminino, todos colherão os frutos juntos, seja nos treinos, ou nos campeonatos, ou na vida, certamente os frutos virão!

Vamos fazer a filosofia do jiu-jitsu ser praticada e não só falada!

Oss.

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