Machismo, Jiu-Jitsu e Feminismo

Não é raro ouvir praticantes de jiu-jitsu, incluindo grandes referências do esporte, falando que a Arte Suave é muito mais do que uma arte marcial, mas uma filosofia de vida. Vida que, por sua vez, nem sempre é simples, nem sempre é justa, nem sempre é fácil. O Jiu-Jitsu deve e muito extrapolar os limites do tatame, deve superar a técnica aprendia com os professores e mestre e, acima de tudo, deve servir para uma vida com qualidade melhor, mais humana e mais digna.

Nossa sociedade pós-moderna é cheia de dilemas, contradições, injustiças, desigualdades e violência. E dentre estes temas ainda podemos abordar a violência psicológica que diariamente muitas mulheres são submetidas. Sim, nossa sociedade é, para nossa tristeza, uma sociedade machista e preconceituosa. O machismo se esconde nos detalhes, por vezes mascarado como piadas e seguido de expressões como “não sou machista, pois era só uma piada”. A falta de consciência de muitos homens leva as mulheres a terem que sofrer caladas. Uma mordaça invisível e apertada que machuca o coração e a alma das mulheres.

Dentro do meio esportivo, particularmente do Jiu-Jitsu, este mal histórico continua vivo e operante. Não é incomum se escutar que “eu apoio as mulheres no Jiu-Jitsu, mas desde que não seja a minha mulher, filha ou namorada”. Mesmo que de forma inconsciente o machismo está vivo e presente em nosso meio esportivo, como um espírito maligno que se nega a ser exorcizado. É importante salientar que conscientemente ou inconscientemente, a dor e o sofrimento que o machismo inflige nas mulheres é o mesmo. Sem querer também machuca. Sem querer também ofende. Sem querer também prejudica.

O feminismo foi e é um movimento político, filosófico e social que busca a igualdade de direitos entre os gêneros masculino e feminino. É diferente do machismo que coloca o gênero masculino acima do feminino. E, neste contexto, precisamos do movimento do feminismo dentro de nossas escolas de Jiu-Jitsu. Precisamos entender que a alma sensível das mulheres não as torna o sexo frágil, mas o sexo evoluído, pois além de guerreiras são pessoas com uma capacidade de amar incomparável. O feminismo, que tem suas raízes na Revolução Francesa, tem muito a ensinar para os praticantes de Jiu-Jitsu.

Pergunto para vocês leitores: – Os prêmios dos grandes torneios de Jiu-Jitsu são os mesmos, em valores ou mercadorias, para os campeões masculinos e femininos? – O tratamento dispensado às mulheres e aos homens é o mesmo nas academias de Jiu-Jitsu? – A atenção que é dada para as mulheres em preparação para algum torneio é a mesma dada aos lutadores masculinos? – As piadas proferidas são diminutivas em relação aos homens ou somente em relação as mulheres? – Você já ouviu homens escutarem em academias de Jiu-Jitsu que isto é coisa para “mulher” fazer? – E o contrário?

São perguntas simples, mas que exemplificam o quanto estamos longe da igualde de gêneros em nosso meio esportivo. Poderíamos pensar neste momento que sim, o machismo está presente em nosso meio esportivo, mas como eu não faço estas coisas então está bem. A neutralidade é um mito. Quem não usa a sua Arte Suave para combater o que não está certo, está errado também. Está escolhendo o lado que oprime em vez de se posicionar ao lado que é oprimido. Jiu-Jitsu deve ir além das fronteiras da técnica e do tatame. “Jiu-Jitsu para todos”, como seguidamente escutamos, se não for com igualdade, não é para todos de fato.  

Por último, gostaria de lhe dizer, estimado leitor ou leitora, que se você tem praticado atos contrário a igualdade de gênero de forma inconsciente (ou mesmo consciente) saiba que é tempo de mudar. Tempo para corrigir e se tornar uma pessoa com Jiu-Jitsu que transcende a técnica. Por vezes fazemos coisas erradas não por sermos maus, mas por não termos sidos devidamente educados e ensinados sobre como devemos nos comportar. Isto não nos torna pessoas ruins, mas uma vez que entendemos a essência do problema, nos torna corresponsáveis pela solução do mesmo.

É nosso desejo sincero que o Jiu-Jitsu evolua e transforme vidas. Entretanto, esta transformação deve ser verdadeira e em todas as áreas da vida. Que as expressões tradicionais do Jiu-Jitsu do tipo “para todos”, “filosofia de vida”, “mudança para melhor” e “Jiu-Jitsu minha vida” sejam sempre autênticas. Não apenas dentro do tatame, mas principalmente fora dele. Lembre-se que se não servir para sua filha, sua mãe, sua esposa ou sua namorada, então não serve para você também. Que o Jiu-Jitsu também seja este instrumento poderoso de transformação social e político que nos ajude a alcançar um mundo mais igualitário, tanto para homens quanto para mulheres!

Oss

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