Treino, logo existo (e faço escolhas)

Eu observo aquela atleta de uma forma bem específica. Ela parece (e está) muito feliz neste ambiente e a ideia que passa é que este local sempre lhe pertenceu, mas não por ela ter nascido ali, mas por ela tê-lo escolhido para si. Quem olha aquela menina conquistando títulos não imagina o que ela passa para estar lá e não sabe quantas barreiras ela transpõe a cada dia para continuar nos tatames. Ela não tem nenhuma doença, nenhuma limitação física ou mental que a impeça de fazer o que deseja; o que ela tem na verdade é uma família que não a apoiou quando ela escolheu praticar o Jiu-Jitsu e ainda não a apoia por querer continuar nele.

As relações entre pais e filhos nem sempre são regadas a diálogo e respeito às escolhas e opiniões de ambas as partes. É difícil saber o que os pais querem dos filhos, tampouco o que os filhos querem da vida e a falta ou escassez de diálogo dificulta ainda mais esse entendimento bilateral. As escolhas dos filhos nem sempre agradam os pais pelo simples fato de que alguns pais, ao conceberem seus filhos, montam um “plano de vôo” para a vida dos mesmos onde estará descrito desde a primeira escola até a formação profissional da sua cria. Lógico, planejamentos são necessários para quase tudo, mas o que seria da vida sem as rotas alternativas ou sem os erros de cálculo? Infelizmente muitos pais não estão preparados para lidar com esses “imprevistos”, que nada mais são do que as decisões dos filhos que desviam completamente da rota estabelecida para eles.

Certo, então a filha resolveu praticar Jiu-Jitsu e isso gerou uma crise sem fim na família. O que mais assusta é que essas situações são recheadas de justificativas do tipo “isso machuca”, “isso ou aquilo não é para você”, “mulher deve fazer coisas de mulher e homens coisas de homens”, “isso vai atrapalhar os seus estudos”, “não se misture com essas pessoas” ou, corroborando com o puro desconhecimento de causa e intransigência, “você não vai fazer isso e pronto!”. E eu questiono, como pode uma família não apoiar algo que faz tão bem para um filho? Como pode um pai ou mãe não enxergar que uma atividade prazerosa e saudável está prevenindo que seu filho entre em várias situações de risco? Como podem eles querer que suas vontades suprimam a vontade dos seus filhos, como se estes fossem robôs pré-programados e sem direito de opinar ou se posicionar perante a vida?

Posições contrárias como esta por parte de alguns pais ou membros da família de atletas de esportes de contato como o Jiu-Jitsu estão muito longe de serem raras. Muitos pais acabam mesmo querendo dirigir a vida dos filhos (como se isso fosse possível), ao ponto de tentarem a todo custo fazê-los desistir das suas escolhas. Entendam que há uma grande diferença entre orientar e dirigir. Os pais têm o dever de orientar os filhos nos caminhos do certo e do errado, embora estas duas estradas estejam paralelas por quase todo o percurso, porém, é possível orientar os filhos para o melhor caminho, sem, no entanto, impor este caminho. Para tal, acreditem, o diálogo entre família e filhos é, desde sempre, o mais correto. Se algo que não estava nos planos da família faz bem para um filho, porque não tentar entender esse algo (a mais) e apoiá-lo nessa escolha? Mas, conjecturas à parte, nem tudo é passível de entendimento, certo?

Então, eu observo aquela menina treinando arduamente para algo além do que lhe é permitido pela família. Ela vai para as competições e não pode contar com os pais torcendo da arquibancada, nem posando para fotos na hora da premiação. Que frustrante! Como pode um pai ou mãe não se colocar no lugar de um filho quando tudo o que ele quer é ser feliz com as suas escolhas?

Certa vez essa menina me contou a sua história e acrescentou que o Jiu-Jitsu lhe ensinou a ser paciente e persistente, por isso torce pelo dia em que eles (os pais) entenderão o quão este esporte é importante em sua vida. Por enquanto ela conta com o irmão que ajuda a comprar os kimonos, pagar academia e os campeonatos. É só uma fase, diz ela, esperançosa de que um dia essa tenacidade dos seus pais com relação ao Jiu-Jitsu seja dissipada.

Eu, após ouvi-la, só pedi que ela não deixasse a Arte Suave, porque a Arte Suave jamais a deixará. Ela sorriu, agradeceu e foi treinar.

Boa semana à todos!

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