Cotidiano de uma lutadora – Parte III

Essa é a terceira parte da nossa crônica sobre a constância. Para quem perdeu a primeira parte, e a segunda, só acessar nossos links. Boa leitura!

Estou o aguardando a alguns minutos, pensando em uma maneira de iniciar esta conversa sem que aconteça uma briga. Geralmente é muito difícil conversar com o Felipe… E  foi. Logo que iniciei e informei que era sobre o Jiu-Jitsu veio a impaciência e os argumentos machistas e dotados de um preconceito.

– Este lance de ficar se agarrando com vários homens, como você quer que eu entenda? O que digo a meus amigos?

Respondo – Cara, você me conhece a tanto tempo, sabe da importância que isso tem em minha vida? Não consegui muita coisa, a discussão parou por aqui… Como nós dois tínhamos que parar…não daria certo uma relação onde apenas um lado é flexível. Onde só importa um ponto de vista. Não se constroem alicerces fortes com estruturas desequilibradas.

Este combate ninguém venceu.

A semana segue, seguem também os treinos preparatórios para a competição. Sigo atentamente as dicas do mestre e coloco nos “rolas” as técnicas do dia. Minha cabeça parece um guindaste, como diria a canção do Kid Abelha, em 92… “um dia inteiro é muito para a gente ficar junto em 92…” Muito… por mais que eu tente me concentrar nos treinos a ideia de o que poderíamos construir juntos não me deixa um segundo… O mestre percebe o desempenho e chama para uma conversa.

– Algo muito grave aconteceu?

Respondo, enganando meus sentimentos: – Não sei se é tão grave assim.

Ele, do alto de sua experiência de vida aconselha:

– Assim como nas competições, nos treinos, a vida nos proporciona oportunidades práticas. Temos a chance de testar como nos saímos de algumas situações. E se encararmos estas oportunidades como aprendizado, muito dificilmente repetiremos os mesmos erros. As vezes perder nos leva a acertar, nos condiciona a não repetir o vacilo, e temos tempo para muita coisa ainda pois, estamos vivos.

Precisava muito disso, sei o quanto humano é o mestre. O quanto pode acertar e errar como pessoa. Sem aquela imagem Hollywoodiana do senhor Miyagi “o mestre perfeito”, isso é ilusão. No nosso caminho muitas vezes podemos dar passos, mas a estrada a ser escolhida não está pautada a nossa vontade. É um mundo de pessoas que crescem em relações que muitas vezes se baseiam em respeito entre os diferentes, e outras não. Constituído de várias visões e percepções de mundo.

Não tem como do alto de nossa realidade exigir que as pessoas sejam como queremos, e fazer com que se coloquem no nosso lugar, num meio que alimenta a individualidade é quase impossível…mas só quase!

Chega o dia da competição, acredito que estou preparada, o ginásio está lotado como a minha chave, tenho cinco duríssimas lutas e vou encarando uma por uma como se fosse a única. Venço a primeira por pontos, a segunda finalizo. O mestre dá suas recomendações de fora e sigo com foco e objetivo. Logo estou na final, o tempo acaba e iremos para a morte súbita, quem fizer o primeiro ponto vencerá.

Combate!

Tento fazer a pegada e a adversária vai se esquivando, minhas quedas são infalíveis, ela sabe muito bem, já nos encaramos em outros desafios. Na tentativa de pegada ela abaixa a cabeça para retirar a mão da gola, aproximo e tomo uma cabeçada… A visão escurece, lágrimas involuntárias embaraçam tudo que vejo… Fecho os olhos e abro rapidamente na esperança de melhorar e repentinamente sou chamada para a guarda…Num salto meio que de impulso ou adaptação aos drills dos treinos, estou na lateral da adversária sem estabilizar.

Parou!

O árbitro pede para levantarmos, foi uma vantagem minha, o campeonato está encerrado. Venci!

Recebo um abraço caloroso do professor, que ainda tenta enxugar o pequeno sangramento em meu rosto, meus amigos e amigas de treino vibram com o resultado, não estou com a mesma empolgação…vamos à premiação.

Tomamos as posições no pódio e todas ao meu lado exibem um sorriso e a felicidade de chegar onde chegaram, penso no quão estou sendo injusta com o resultado, o quão é injusto as vezes competir… Recebo a medalha e uma surpresa que acelerou meu ritmo cardíaco mais que uma passagem de guarda… Felipe, recebe do mestre a faixa marrom para me entregar.

– Posso treinar com você?

Recebo a faixa que eu tanto esperei em situações que nunca imaginei em minha vida. O diálogo valeu a pena, sempre vale, Felipe se desculpa por só pensar nele, e como assistiu as lutas, ficou espantado com tanta determinação minha. Percebeu na prática a importância que dou a arte suave.

Percebo a importância de se impor a certas injustiças… A atitude fez a diferença.

Tive a oportunidade que muitas não tiveram…  Mas ainda estamos vivas.

 

{FIM}

 

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