A experiência sempre ensina: é preciso ouvir o sinais que o corpo dá

Uma das poucas certezas que tenho na vida,  é a necessidade de se compartilhar o aprendizado, porque assim, garantimos a nossa evolução e também ajudamos na de outras pessoas. Amparada nessa assertiva, quero dividir com vocês, uma experiência que me afastou dos tatames, por mais de trinta dias.

Buscando melhorar o desempenho no jiu-jitsu, iniciei uma dieta de baixa quantidade de carboidratos, mantendo os treinos bem puxados. Após alguns dias, eu não estava conseguindo ter o desempenho desejado. Fiz uma pequena pesquisa e cheguei à conclusão de que um termogênico a base de cafeína poderia ser a solução do problema. Entretanto, com o organismo debilitado por aquela dieta alimentar muito restrita, treinos intensos e o acréscimo de cafeína, desenvolvi uma arritmia cardíaca, bem intensa. Fiquei alguns dias em casa, para ser mais exata, foram quatro dias, sentindo todos os sintomas que são bem conhecidos por aqueles que já tiveram arritmia.

Por pressão externa e interna também, logo voltei a treinar, com a saúde “fragilizada”, porque o objetivo maior era participar do Open BH, da CBJJ e IBJJF (era uma realização minha devido ao excelente nível da competição) e faltando menos de 2 semanas, eu precisava me preparar. Continuei com os treinos intensos e, com o passar dos dias, eu me sentia cada vez mais fraca, inclusive com falta de ar, mas prossegui… No dia do evento, realmente, eu não me sentia plenamente bem, mas queria dar o meu melhor, independente de estar bem ou não. O resultado não foi o que eu esperava; apesar de eu lutar tecnicamente bem, meu corpo “travou” e não consegui pontuar ou finalizar. Apesar de a oponente também não pontuar e não me finalizar, ela foi vencedora por decisão do juiz.

Voltando para casa devido à “falta de ar”, fui consultar com um médico no Posto de Saúde. O médico afirmou que era rinite e me receitou uma injeção de Beta 30, um corticoide. A partir daí as coisas se complicaram ainda mais. O corticoide alterou meu metabolismo. Decidi então, tirar uns dias de folga e nada de melhorar. Na segunda-feira, voltando aos treinos, passei mal com devido a mais uma crise de arritmia, com sintomas muito desconfortáveis, que duraram toda a madrugada. No dia seguinte, agendei uma consulta com um bom médico cardiologista e através do exame de eletrocardiograma digital, ele diagnosticou arritmia sinusal. Ali se iniciava a minha epopeia…

Exames, remédios e aqueles momentos de altos e baixos no estado geral de saúde. Em alguns momentos, horas eu me sentia bem, em outros parecia que ia morrer.  Ainda pior era sentir meu coração naquele ritmo exagerado (as batidas do coração balançavam até o meu cabelo), isso me assustava, de tal maneira que liberava mais adrenalina no sangue, piorando os sintomas em verdadeiro ciclo vicioso, criando uma enorme bola de neve que esmagava meu ânimo e bem-estar.

Agora, finalmente, depois de mais de um mês de tratamento, estou preparada para voltar aos treinos, com o apoio de um Betabloqueador de última geração (medicamento que diminui o ritmo cardíaco) e com mais bagagem na minha mala de experiências. O cardiologista me explicou que o coração é um músculo que funciona idêntico a uma bomba de impulso elétrico, exigindo-se assim, um treinamento adequado capaz de garantir um bom desenvolvimento cardíaco gradual e seguro. O cardiologista me disse ainda ser muito comum a ocorrência de arritmia cardíaca em atletas de alta performance (ao menos nisso eu fiquei feliz, ele me chamou de “atleta de alta performance”), porque o coração trabalha como se fosse um carro esportivo, sendo exigido em grandes e rápidas acelerações.

Exatamente devido a esse funcionamento, o coração necessita sempre de trabalho aeróbico, gradual e constante, aliado a boas pausas de descanso dos treinos intensos. Recentemente, o grande lutador Roberto Cyborg contou à Revista Tatame estar “lutando” contra uma arritmia, cuidando-se e treinando sempre com cuidado. Portanto, não tenham “vergonha” de falar “não estou bem” ou “estou cansado (a)”, porque somente se cansa, quem treina duro…

Toda máquina necessita de uma pausa, para que não se desgaste. O nosso corpo é uma “máquina” maravilhosa, capaz de proezas inimagináveis, desde que ela tenha sempre o necessário descanso. A verdade é que eu desejava a excelência antes do momento certo e provoquei uma série de problemas que poderiam ser evitados. Não somos Deuses imortais… Devemos sempre praticar o autoconhecimento e a autovigilância, para saber a hora de parar, a hora de se cuidar, a hora de descansar…

O seu jiu-jitsu somente estará bem se você estiver bem, física, mental e espiritualmente. A boa saúde é uma dádiva e deve ser protegida. Agora aprendi a lição e iniciarei treinos sempre atenta ao meu organismo, buscando um trabalho aeróbico mesclado com musculação e os treinos rotineiros de jiu-jitsu, intensos, porém com as devidas pausas de descanso e uma alimentação balanceada, sem restrições exageradas. Assim agindo, certamente obterei a excelência, sem atropelos, com segurança e saúde. Então, eu faço aqui a todos os praticantes de jiu-jitsu, esse importante recado de quem “sentiu na pele”: cuidem da saúde, ouçam os sinais que o corpo emite. Sejam pacientes consigo mesmos e com o tempo de evolução gradual e constante; respeitem o seu limite e acima de tudo, tenham o necessário descanso, porque assim vocês obterão a excelência no jiu-jitsu, com segurança e saúde.

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