A crise da faixa azul: por que a maioria das desistências ocorre na faixa azul?

Desistir…. Seria ótimo se essa palavra não existisse no nosso vocabulário, porém são vários os fatores e causas que levam muitos atletas a abandonarem os tatames nessa fase. Mas por quê?

Antes de enumerarmos o que leva tanta gente a abandonar a faixa azul, vamos voltar um pouco antes da graduação quando você era faixa branca, que é onde tudo começa!

Quando iniciamos no jiu-jitsu, parecemos umas baratas tontas, começando pelo aquecimento (rolamentos, saída de quadril, quedas etc.), vai piorando quando o professor explica a técnica (que na nossa cabeça parece super fácil), conclusão: “eu não tenho coordenação motora alguma.” Mas isso é só no começo, porque depois tudo fica MARAVILINDO! Você treina duro e começa a voar: começa a passar o caminhão nos faixas brancas, ganha competição atrás de competição e já começa a dar trabalho para os faixa azul da academia.

Enfim, chega a tão esperada e sonhada graduação, chega a faixa azul! Uau! Ficamos deslumbradas quando o mestre amarra aquela faixa linda na nossa cintura, estufamos o peito e é aí que começa a jornada de verdade. Você começa a perceber que os graduados já não são tão camaradas como antes, os rolas começam a ficar mais firmes, com muito mais pressão, você começa a sentir  responsabilidade ao treinar com um faixa branca, e ai dele se quiser passar sua guarda. É, parece que não é tão simples, mas ninguém disse que seria.

Agora que você começou a se identificar, vamos enumerar alguns dos principais pontos que fazem a faixa azul se a fase com o maior número de desistências:

  1. Desmotivação: a desmotivação acontece de forma natural, nós desejamos tanto uma coisa e depois que a conseguimos, com o tempo, parece não ter o mesmo sabor, a expectativa é tão grande para ser graduado à azul e quando você chega nela você começa a ficar acomodado com a situação;
  2. Cobrança: agora você é um graduado, além da cobrança do mestre para não cometer erros grotescos você começa a se cobrar e a se perguntar: “Será que eu mereço mesmo essa faixa azul?”;
  1. Lesões: essas são nossas verdadeiras inimigas, tardam, mas não falham. Depois de graduado, você naturalmente vai usar menos força e mais técnica, vai treinar duro e as dores vão surgindo aos poucos: joelho, ombro, cotovelo, tornozelos etc. As lesões nos afastam dos treinos, nos fazem sentir dores constantes, reduzem o rendimento e te fazem parecer inferiores. Eu já cheguei ao ponto de me perguntar: “Pra que eu vou treinar jiu? Só me machuco, eu não preciso disso!”. Logo eu descobri que era apenas uma fase;
  2. Graduação lenta: sabemos que a graduação da faixa branca para a azul ocorre em torno de 1 ano (às vezes um pouco mais), depende da frequência de treinos e evolução nas técnicas. Porém, a faixa roxa não chegará tão rápido, e isso gera um certo desânimo para o atleta que almeja a próxima graduação.

Um faixa azul de verdade não pode tomar amasso dos “brancas” e tem que dar treino duro para os graduados, principalmente para os roxas. Deve ser exemplo, os mais graduados sempre são exemplos para os menos graduados, exemplo de postura, de técnica afiada, rolas duros e respeito.

 Agora, juntando tudo isso fica fácil entender a razão da faixa azul ser a época de até 70% das desistência nos tatames de jiu-jitsu. Não é fácil continuar, realmente é para os fortes!

Nossa querida Sam (Samanta Fonseca) fundadora do Bjj Girls Mag, tem passado por uma fase difícil na faixa azul: ela está se recuperando de uma lesão no ombro, lesão essa que a afastou dos treinos por um determinado tempo, e um mês após ter recuperado o ombro, sofreu uma lesão no dedo lutando o Curitiba Open, mas ela afirma não desistir e assim que puder treinar, vai retornar aos poucos.

Outro depoimento inspirador foi do atleta Tiago Rosa (faixa roxa). Ele nos contou o que passou em uma determinada fase da faixa azul, mais precisamente quando ele tinha dois graus: “Eu comecei a definir meu jogo na guarda, isso fez eu tomar muito amasso e me sentia mal achando que meu jiu-jitsu estava regredindo.” Junto a isso começaram as lesões, mas ele não podia parar e a dor passou a ser sua companheira de treino. A recompensa veio com a graduação na roxa.

Outra colunista aqui do BJJ Girls Mag, a May (Mayara Munhos), também editora na ESPNW Brasil, nos deu um relato muito motivador. Ela contou que a faixa azul era um sonho, ela admirava ver as meninas com a faixa azul, achava e ainda acha lindo! Mayara começou muito cedo no jiu jitsu, aos 13 anos, tempo depois precisou de parar e quando voltou ficou na branca por um curto período e logo foi graduada azul, ela fez valer o tempo que ficou sem treinar e deu o seu melhor, hoje a May está prestes a pegar a faixa Roxa, e pra ela o trajeto na faixa azul foi ótimo!

Quem treina jiu-jitsu sabe que o caminho é árduo, mas uma hora a nossa recompensa chega e nos enche de orgulho. Se você se identificou com este texto, não desista, persista, essa fase vai passar e você vai entender que tudo faz parte da caminhada. Eu ouvi a seguinte frase e deixo aqui para vocês refletirem: “É na faixa azul que se constrói um faixa preta!”

Siga em frente, você está no caminho certo.

Oss!

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For the purpose of facilitate access for people from another country, Patrícia Costa made an English version of this post.

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