Onde estão as professoras de jiu jitsu?

Foto: Diorgenes Pandini / Agência RBS (A Notícia)

Que o número de mulheres praticantes da Arte Suave é consideravelmente menor que os homens que a praticam não há dúvidas. Entretanto, quando limitamos a análise ao número de faixas pretas, esta razão é ainda mais preocupante. Muitos fatores, ainda que absurdos em uma primeira vista, ajudam a compreender o que historicamente tem acontecido com as mulheres no Jiu-Jitsu.

Inicialmente, o estigma de “briga de rua” que o Jiu-Jitsu tinha foi um fator que contribuiu para que as mulheres não se aproximassem deste esporte tão belo nobre. Mas esta explicação seria apenas superficial. O Jiu-Jitsu foi se popularizando, desmistificando seus rótulos e se tornando um esporte cada vez mais praticado no Brasil e no mundo. Com o advento do UFC no início da década de 90 ficou mais do que comprovada a eficácia da Arte Suave como uma arte marcial de autodefesa. As vitórias empolgantes do Royce Gracie sobre adversários consideravelmente maiores do que ele fez com que o interesse no Jiu-Jitsu aumentasse consideravelmente.

Os anos foram passando e muitos homens optaram por aprender a Arte Suave e se tornaram grandes professores. Mas, e as mulheres? Inicialmente as mulheres não aderiram tanto a este esporte tão nobre e eficaz. Recentemente estive conversando com Kipp Kollar (CEO do NAGA) durante o evento no Rio de Janeiro realizado este mês, para ele é necessário o estímulo desde a infância para atrair mais mulheres tanto para o esporte quanto para as competições.

Outro fator que ele chama a atenção é que competições No Gi (sem quimono) demonstram para as mulheres o quanto a Arte Suave é salutar para a defesa pessoal. Por último ele destaca que as brasileiras são competidoras realmente duras e que nos EUA as competições femininas juntam as faixas roxa, marrom e preta em uma categoria avançada, ao passo que no Brasil isto não é possível. Isto evidencia o quanto que em nosso país, apesar de o número de mulheres praticantes ser baixo, ainda é maior do que lá fora.

Ainda no NAGA-RIO 2016, tive o privilégio de conversar com a professora faixa preta Luciana Neder (Campeã de quimono e 25 anos de Jiu-Jitsu) sobre esta questão. Para ela, quando pensamos nas mulheres no Jiu-Jitsu, vemos que falta incentivo. Seja porque as premiações são menores do que para os homens seja por diversos outros afazeres que as mulheres assumem. De forma bastante interessante, a Profa. Luciana pontou que falta estímulo por parte dos professores que deveriam criar turmas exclusivas para mulheres. Somente assim iremos aumentar o número de professoras graduadas (faixas pretas).

Informalmente, estive conversando com alguns homens sobre a questão. Lhes perguntei o quão confortável eles ficariam com uma professora em vez de um professor. Não posso nem dizer que estou surpreso com algumas respostas, mas de forma geral, eles preferem professores. Seria isto apenas preconceito? Provavelmente é. E um preconceito cultural que está enraizado em nossa sociedade de forma profunda. Existem mulheres com técnicas muito mais apuradas que homens, assim como existem homens com técnicas mais apuradas do que mulheres. Enquanto não se ver uma igualdade justa, ações como “estímulo” são apenas paliativos. Não irão resolver a questão.

Naturalmente, também estive conversando informalmente com algumas mulheres sobre a questão. O contraste é significativo. As mulheres treinariam com professoras sem problemas e também não expressaram receios em treinar com professores. Esta diferença comportamental apenas destaca o quanto as mulheres do Jiu-Jitsu estão mais abertas e evoluídas a uma série de questões sociais mais amplas que têm reflexos dentro de nossas academias. Machismo, preconceitos, rótulos e outros são apenas alguns exemplos dos quais precisamos socialmente e individualmente nos libertar.

É importante os leitores e leitoras perceberem que todas questões sociais relacionadas com preconceitos e discriminações que vivenciamos fora dos tatames têm reflexos direto no Jiu-Jitsu. Questões de diferenças de estímulo, tratamento, premiações e outros que observamos nos permite perceber o quanto as mulheres são desvalorizadas e, infelizmente, trazidas para dentro de nossas academias. Por esta razão a luta é constante.

A conscientização é necessária. É preciso esclarecimento sociocultural para que estas diferenças sejam extirpadas de nossa Arte Suave. E além: que sejam deletadas de nossa sociedade. Somente assim poderemos ver igualdade e justiça associadas não apenas em nosso meio esportivo, mas também no contexto social amplo.

O título desta coluna inicia com uma pergunta bastante clara. Perguntei por onde andam as professoras? A resposta agora parece mais direta e objetiva do que antes. As poucas professoras formadas que temos atualmente, verdadeiras heroínas da Arte Suave, estão lutando dentro e fora dos tatames para que uma nova geração de professoras seja formada. Entretanto, o mais importante, é destacar que as muitas professoras de Jiu-Jitsu estão por aí. E elas estão apenas esperando para serem descobertas, lapidadas e integradas plenamente no estilo de vida da Arte Suave.

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