A dor é passageira, a glória é para sempre

Você sabe o que é dor, todo mortal sabe, mas há uma dor bem específica que acompanha a todos aqueles cujo trabalho diário envolve desafiar os limites físicos e mentais por meio da prática esportiva, mas independentemente do grau de envolvimento que há na relação homem/esporte a verdade é que a dor parece ser “parte do pacote” de todo atleta, principalmente dos de alto rendimento. É literalmente o “no pain, no gain” que tanto se fala por aí.

Ontem eu estava no meu vício diário (jiu-jitsu), quando percebi muita dificuldade para fechar as mãos por conta das dores provocadas pelos quase 19 anos fazendo pegadas, e esta é apenas uma entre tantas que me acompanham há anos. Fiquei num canto do tatame observando os treinos e pensando nas Olimpíadas Rio 2016 e naquele atleta japonês da ginástica que conquistou a medalha de ouro por um décimo de ponto em relação ao segundo colocado.

Após sair do aparelho, a barra, ele foi em direção a algum membro da equipe médica com o rosto deformado por uma dor muito forte na região lombar. O homem fez massagem e colocou um emplastro no local, mas o semblante do menino Uchimura mostrava pouco alívio, na verdade demonstrava muito sofrimento. Foi impossível não ficar perplexa com o que ele havia acabado de fazer naquela barra e mesmo tendo a dor como companheira ele executou sequências muito complexas de giros, pegadas e retomadas sem aparentar grande esforço, tal qual ditam as regras da ginástica. Creio que em nenhum momento ele pensou que aquela dor insuportável poderia ser o seu limitador. Nada poderia detê-lo e nada o deteve.

Voltei a mim e às minhas mãos que mal conseguiam fazer as pegadas e ouvi alguém ao lado reclamar do joelho. Sentada naquele canto do tatame comecei a conjecturar que a ponte que liga todos os atletas de todas as modalidades do mundo é, sem dúvida, a dor. Nenhum praticante de esporte está isento dela, o que me leva à certeza de que a principal missão de um atleta de alto rendimento não se limita a ser o mais forte, o mais rápido ou o mais resistente, mas de como fazer tudo isso tendo que conviver diuturnamente com a dor.

A medicina esportiva evolui rapidamente e hoje temos o prazer de ver atletas de 30, 40 anos ainda competindo nas categorias profissionais de várias modalidades, algo muito raro há décadas atrás. Os profissionais que tratam de lesões são hiperespecializados em determinadas partes do corpo e isso ajuda a desenvolver tratamentos e medicamentos específicos e mais eficazes.

Fora  o fator psicológico que entrou com toda força na jogada e os atletas também contam com pessoas que tratam de situações intangíveis como traumas, medos e receios, ou seja, outros tipos de dor. A ginasta Oksana Chusovitina (Uzbekistão), de 41 anos, é um exemplo do que estou abordando aqui e só quem conhece a sua história sabe o motivo pelo qual ela se manteve competindo num esporte no qual qualquer um que atinja 25 anos já é considerado velho. Quantos preços físicos ela já pagou por sua persistência e quanta dor ela já suportou num esporte tão difícil e exigente como a ginástica? Nunca saberemos, mas ela é um ícone.

O mundo tem muito a aprender com os atletas, exemplos de abdicação e superação. Eles são a prova concreta de que o limite físico pode ser bastante relativo e cada um tem o seu, mas é sabido que nem todos podem alcançar um patamar de atleta de alto rendimento, afinal, quantos Usain Bolt e Michael Phelps você vê por aí? Esses atletas, para alguns teóricos esportistas, nem são considerados terráqueos por conta dos índices das suas conquistas, mas tenha certeza que eles se igualam a todos nós quando o assunto é dor.

Ora, se para eles, que talvez nem sejam deste planeta, a importância do acompanhamento profissional e de tratamentos adequados é imprescindível, imagina para os “atletas normais”, daí a importância de se conhecer fisicamente e sempre ter, minimamente, aquele traumatologista/ortopedista de confiança, pois só ele é capaz de identificar situações que fogem do padrão/dor comum, pois nem toda lesão pode ser ignorada e nem toda dor se cura treinando.

O fato é que para quem ama o que faz e decide viver disso, pior do que a limitação pela dor física é a dor psicológica da desistência que insiste em comunicar ao cérebro que se pode ir além. É esta a característica que diferencia os atletas de alto rendimento dos demais: parar não é uma alternativa. É um mundo paralelo em que a máxima dita que “a dor é passageira, mas a glória é para sempre”, doa em quem doer. Hoje eu enxergo o real sentido dessa frase, ela rege verdadeiramente o mundo dos esportes e com razão, já que atletas são seres que buscam incessantemente algo maior que eles mesmos, talvez até maior que a própria dor, um limiar entre a superação e o triunfo, algo experimentado somente por aqueles que sabem que a dor é apenas mais uma barreira… superável.

P.s: Sobre as lesões comuns dos praticantes de jiu-jitsu, o David, nosso colunista, fez um excelente texto, que você pode acessar AQUI. 

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