Jiu-jitsu, humildade e as frustrações da vida

Era meu nono campeonato. Já havia ganho oito. Me sentia confiante, seguro e sabedor que para um faixa branca eu tinha um nível técnico aceitável. Era só mais uma medalha. Na verdade, o torneiro nem era tão importante. Um torneio em uma cidade pequena e de pouca expressão. Primeira luta finalizada com sucesso. Segunda luta também. Vamos à final! Um sonoro 9 x 0! Mas para o meu adversário.

O jiu-jitsu é fantástico! Nos ensina nos momentos em que menos esperamos. Além da lição de humildade que todos sempre precisamos, e que nunca é demais, veio junto a frustração da derrota. Mas quem sempre venceu tudo na vida? Ou nunca passou por frustrações? Não há. Mas o outro dia seria segunda. Dia de voltar aos treinos. Recomeçar. E assim foi…

Quem nunca experimentou o sentimento de frustração? Aquela dieta que iniciamos e não seguimos, os “nãos” que escutamos ao longo da vida, os objetivos que não alcançamos, as derrotas que passamos, um amor que não deu certo ou não foi correspondido e tantos outros exemplos. Quando não atingimos o objetivo do que nos motiva é bem onde encontramos a frustração.

Com certeza ela é uma sensação que faz parte dos nossos sentimentos e que pode ter consequências bastante fortes na vida de quem não consegue elaborá-las e superá-las. Durante o período do processo de recuperação de uma frustração podem vir outros sentimentos e condições que a ela se associam. Tristeza, depressão e falta de vontade são comumente percebidos em pessoas que não superam suas frustrações.

O jiu-jitsu, que além de uma arte marcial, é também uma filosofia vívida e forte, e traz consigo todas as ferramentas psicológicas e cognitivas para a superação da frustração. É como sempre escrevemos “o jiu-jitsu deve ir além da técnica e do tatame”. Este sentimento que experimentamos desde a infância tem um papel fundamental no nosso desenvolvimento pessoal e interpessoal, sendo muito importante para uma vida em sociedade.

Relação entre o jiu-jitsu e a frustração

Como nossa arte marcial nos ajuda a superar este sentimento? Desde a primeira aula aprendemos a saída de toda e qualquer posição: o famoso “três tapinhas”. Imagine você estando na final do campeonato mundial de jiu-jitsu e que você está vencendo a luta por uma diferença grande de pontos. Mas, contudo, quando faltam apenas 10 segundos para a sua consagração como campeã (ou campeão) você leva uma chave de braço que lhe obriga a dar os três tapinhas e perder o título mundial.

O sentimento de frustração lhe envolverá por completo. Apesar de hipotética, a situação não deixa de ter uma probabilidade bastante real e, quem compete, sabe que estas coisas acontecem. Em um primeiro momento, vemos a frustração tomar conta. Mas, como é sabido, a vida continua. E o sentimento vai mudando. Começamos a refletir sobre o que podemos aprender e sobre o que devemos mudar. Muitas vezes nos motivamos a aumentar os treinos, a nos alimentarmos melhor, a fazer as coisas com mais disciplina e, mesmo, a entender que já vínhamos fazendo as coisas corretamente.

Este exemplo fictício que foi dado é uma alegoria de que a frustração pode ser superada com a motivação correta. O treino da arte suave nos possibilita a entrar em contato com o sentimento de frustração quase sempre. Um treino em que não conseguimos encaixar uma finalização (ou em tantos treinos), o outro em que somos finalizados por menos graduados, ou aquele em que as demais pessoas executam bem a técnica ministrada e nós não conseguimos, e assim por diante. Nem por isso iremos desistir. E assim, como também acontece com tantos sentimentos, vamos aprendendo a elaborar melhor e a superar. O segredo está na perseverança. Não devemos procrastinar frente às frustrações.

Quando transpomos isto para a vida fora dos tatames, passamos a entender que as coisas acontecem de formas similares. Por vezes não conseguimos a promoção que esperávamos, somos despedidos, terminamos uma relação, perdemos alguém que amamos, nos falta dinheiro para terminar o mês e tantas outras situações. Assim como fazemos dentro do tatame, também devemos fazer fora e expandir a nossa capacidade de resiliência. Entender que a frustração passará, mas quem desiste estará procrastinando em um sentimento ruim que pode levar a consequências desastrosas em nossas vidas.

Se você está tentando e mesmo assim não está tendo sucesso, então talvez seja necessário um auxílio profissional. Não tenha vergonha de buscar ajuda e nunca se entregue. Lembre que na arte suave dar os três tapinhas não é o fim, mas uma alternativa que permite recomeçar em melhores condições e com mais experiência. E, desta forma, vamos fazendo um paralelo entre a vida nos tatames e ela como um todo! Assim como no jiu-jitsu, podemos recomeçar e tentar novamente, que esta seja uma expressão real na sua vida como um todo.

Entre a derrota do nono campeonato e o décimo foram quase dois meses frustrado com o desempenho, mas também de muito aprendizado. Mas a insistência valeu a pena. Além de ser campeão no próximo, ainda veio a premiação com a faixa azul durante a semana!

Bons treinos e nada de se entregar ao sentimento de frustração. Oss!

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