O bullying e o jiu-jitsu

Uma tragédia sem precedentes na quente e aconchegante Goiânia. No último dia 20 de outubro, um jovem de 14 anos pegou uma arma escondida dos pais, que são policiais, e a levou para escola. Num intervalo entre aulas, atirou contra seis estudantes. Uma funcionária da escola o convenceu a se entregar. Mas o pior havia acontecido. Dois garotos morreram. Uma menina ficou paraplégica. As autoridades que investigam as circunstâncias dessa barbaridade apuram se possíveis atos de bullying contra o atirador tenham motivado o crime.

As notícias da existência dessa hipótese, mesmo não confirmada, produziram um amplo debate nas redes sociais. E, confesso, fiquei impressionado! Deparei-me com grande número de pessoas tratando o bullying como “mimimi” e frescura. Li relatos de pessoas inteligentes, com boa formação e muito bem intencionadas defendendo essa pressuposição.

Mas os defensores dessa teoria se baseiam em experiências pessoais ao afirmar que o bullying não gera sérios prejuízos para crianças e jovens. Por isso é preferível ancorar opiniões em trabalhos científicos produzidos por pessoas e intuições especializadas e muito sérias. Alguns estudos acadêmicos sobre o tema foram relatados pelo jornal Correio Braziliense em reportagem publicada no último dia 29 de outubro. A repórter Paloma Oliveto assina a matéria. Uma pesquisa desenvolvida na Universidade da Califórnia, que analisou um banco de dados com mais de 11 mil participantes, constatou que “o bullying tem participação no sofrimento mental dos adolescentes” e o impacto causado pela pratica pode durar até cinco anos dependendo da idade da vítima. O estudo mostra crianças que sofreram agressões aos 11 ou 12 anos, ainda sentiam o impacto da perseguição aos 14 ou 15.

A reportagem revela ainda que o bullying no ambiente educacional gera perda de confiança na escola, conforme consta em estudo desenvolvido pela Universidade de Vermont, nos Estados Unidos. Ou seja, um adolescente ou jovem pode ficar desmotivado, desinteressado e até desistir da escola e dos estudos.

O bullying é real e gera cicatrizes profundas em meninas e meninos. Isso não significa que vítimas dessa prática são propensas psicopatas. Situações como a de Goiânia são raríssimas e, certamente, precisam ser analisadas sob outras perspectivas. Contudo é extremamente comum danos como baixa auto-estima, dificuldade de relacionamento pessoal e aprendizado, depressão, apatia e até violência.

Crianças e jovens com essas características podem ter suas vidas adultas comprometidas. Obviamente, um péssimo estudante na adolescência terá mais dificuldade em desenvolver uma carreira de sucesso quando adulto. E outro extremamente introvertido terá perdido a possibilidade de fazer amigos. Muitos de nós conhecemos alguém que perdeu oportunidades interessantes na vida – empregos, amores e experiências – por simplesmente não se sentir confiante o suficiente para se impor e dizer o que realmente pensa.

E o jiu-jitsu com isso?

A arte suave pode ser uma ferramenta de resistência ao bullying. E resistir aos ataques é fundamental. A constatação é do Centro de Pesquisa em Cyberbullying da Faculdade Flórida Atlântida, que pesquisou o tema. Segundo matéria do Correio já citada, um teste aplicado em 1.204 jovens norte-americanos de 12 a 17 anos revelou que “estudantes com alto grau de reação eram menos propensos a serem perturbados pessoalmente e online e, quando isso ocorria, eles sofriam menos que os jovens com maior dificuldade de lidar com contratempos”. A diretora da pesquisa explicou que “a resiliência é uma característica individual e natural, mas que precisa ser nutrida por meio de incentivos sociais e fatores ambientais”. Uma escola de jiu-jítsu pode ser um lugar perfeito para aprender a ser resiliente.

O(a) aluno(a) aprende a lidar com o estresse, pressão, orgulho, a dominar seu instinto, controlar a raiva e a euforia e a vencer seus medos em espaço seguro e sob supervisão. Não pense que a criança vai sair por aí dando armlocks ou apagando quem implica com ela. A ideia é justamente o contrário. As artes marciais, e o jiu-jitsu em especial, podem dar aos jovens a capacidade de lidar com frustrações e aprender a encarar seus problemas.

Quando criança, na década de 1980, não tinha academias de jiu-jitsu perto de casa. Só conheci a arte suave quando adulto. Mas aos sete anos tive a sorte de entrar no karatê, uma arte bem diferente na prática, porém semelhante no que condiz à filosofia. Isso me ajudou imensamente. Tinha uma série de tics nervosos. Piscava, repuxava a cabeça e dobrava os lábios. Apelidos eram comuns. Mas eu conseguia impor limites. Acredito que os agressores pensavam: “melhor não mexer com ele”. E não era preciso apelar para a violência. Bastava me impor. Aconteceram algumas poucas brigas, mas nada que passassem de alguns empurrões, tapas e apertos.

Praticar artes marciais me deu confiança para lidar com meus conflitos na adolescência. Enfrentar essas situações me fortaleceu como ser humano. O jiu-jitsu aliado à presença constante dos pais, educação familiar, religiosa (no caso de quem acreditar ou seguir) e cívica é um dos caminhos para que nossas crianças cresçam fortes e sadias, mesmo que não possam controlar o que acontece ao redor delas.

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