Jiu-jitsu e depressão: uma questão de contexto

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) a depressão atinge cerca de 340 milhões de pessoas no mundo todo e nos mais variados graus (de leve a severa). É a causa da maior parte dos suicídios e se caracteriza por um estado de estresse extremo que causa muita dor, desespero, impotência e desapego com a vida.

Hipócrates, no Século 4 a.C, foi o primeiro a estudar sobre a depressão dando-lhe o nome de melancolia. Desde então, esta doença vem sendo estudada sob diversas teorias que tentam decifrá-la, mas tudo o que se tem de concreto até hoje são os tratamentos (medicamentosos e terapêuticos), não a cura.

No livro intitulado “O Suicídio”, Émile Durkheim discorre brilhantemente sobre a questão da depressão ligada ao suicídio – assim como os tipos de suicídio -, e embora seja uma leitura densa, ajuda-nos a entender muito sobre esta doença menosprezada, mal interpretada, mas extremamente devastadora para quem por ela é acometido.

Mas, que relação nós fazemos entre a depressão e o jiu-jitsu? Ora, para os atentos, tem-se registrado alguns casos de suicídio ou de tentativa de suicídio entre praticantes de jiu-jitsu. Se levarmos em conta o quanto o jiu-jitsu pode ser uma prática de exigência pessoal e coletiva extrema (busca por resultados), quando juntada com outras questões pré-existentes e até mesmo recentes na vida do praticante, leva-nos a entender que nem mesmo os infinitos fatores positivos da modalidade são capazes de frear uma tentativa de atentar contra a própria vida quando a dor é maior do que a vontade de superar.

Assim, é importante entender que não se trata de afirmar que o jiu-jitsu ou qualquer outra prática esportiva é responsável, isoladamente, por levar alguém a atentar contra a própria vida, mas de afirmar que em todos os nossos círculos sociais (inclusive no jiu-jitsu) há os que não conseguem lidar com questões aparentemente simples para a maioria. Então, trazendo especificamente para o praticante de jiu-jitsu, tem-se as frustrações, a sensação de não estar evoluindo, as derrotas mal absorvidas em competições, a cobrança excessiva do professor, dos colegas de treino, da família ou de si mesmo, o medo de não ser bom o suficiente.

Por falar nele, é fato de que o “medo” rege a existência de um ser com depressão e ao juntarmos todas as questões já mencionadas a outros fatores pessoais que podem estar acontecendo na vida da pessoa, percebermos que os preceitos da motivação e superação, tão amplamente difundidos entre os praticantes do jiu-jitsu, ao invés de ajudarem, podem agravar o​ estresse e corroborar para que alguns não usufruam do mesmo prazer que a maioria dos praticantes experimenta.

Mas, como lidar com isso dentro das academias, já que a depressão nem sempre é percebida e para atentar contra a própria vida basta uma decisão e uma oportunidade? Bem, de fato não é uma questão simples e talvez não exista uma resposta, sobretudo porque a depressão é uma doença que não escolhe gênero, raça, credo, status social e, pior, nem sempre tem um motivo aparente e pode, inclusive, estar associada a vários motivos ao mesmo tempo (psicossomático).

Assim, as orientações são, em grosso modo, generalistas, mas por se tratarem de atitudes pessoais servem para cada um que esteja nesta situação, seja praticamente ou não do jiu-jitsu:

– Não se feche achando que pode superar sozinho, porque você não está só e pode contar, inclusive, com a irmandade que o jiu-jitsu proporciona;

– Não se exija demais. Converse com especialistas, com amigos, com seu professor de jiu-jitsu e seja honesto quanto às suas limitações;

– Procure refúgio naquelas que vão entender a sua dor e não com qualquer pessoa, já que nem todos saberão ajudar;

– Estude sobre a depressão para que você se antecipe a ela desde os primeiros sinais. Conhecimento é poder;

– Não deixe a depressão guiar a sua vida e isso implica em não se afastar do que você ama, inclusive do jiu-jitsu, pois este pode ser uma parte  fundamental da terapia se bem aplicado;

– Evite dimensionar problemas que talvez nem sejam tão grandes;

– Cuide da sua alimentação, durma bem, tire um tempo para você se divertir, rir. Ficar à toa de vez em quando também faz parte da vida;

– Ratificando: uma das características mais vorazes da depressão é a sensação de estar só, mas mesmo que pareça, você não está só;

No mais, é fundamental voltar a enxergar a vida como uma dádiva, mas para isso é preciso cuidar dos medos e aprender a ser MENOS estressado, cobrador, exigente, imediatista, egoísta, e investir MAIS em si para que todo o resto pareça menos pesado.

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