Carta de um homem às mulheres do jiu-jitsu

Sair da zona de conforto é sempre difícil. Para qualquer pessoa. E, para mim, também não é diferente.  Quase todos membros da equipe da redação BGM atual são mulheres, exceto dois amigos e eu. Não são raras as vezes em que aprendo muito com elas em nosso grupo da redação do Whatsapp. Todas têm personalidades singulares e marcantes. O comum entre elas é o jiu-jitsu e o as dores de serem mulheres e viverem na nossa sociedade machista e preconceituosa. E, por consequência, as dores do preconceito no meio do jiu-jitsu.

Mas eu sou homem. E, como tal, nunca vou pensar como pensa uma mulher, nunca vou sentir como sente uma mulher e nem nunca vou entender com a devida profundidade o que é sofrer o que elas sofrem. Deixo claro que isso não é justificativa nem para mim e nem para ninguém de evitar a prática da empatia. Todos temos que praticar e devemos buscar mudar o que não é certo. Mas quem disse que é fácil?

Mudar e contribuir para que o jiu-jitsu se torne um mundo igualitário para homens e mulheres é uma tarefa árdua. Muito árdua. E diariamente sabemos de relatos machistas no nosso meio esportivo. Diariamente mulheres são vítimas de preconceitos, machismos, autoritarismos, assédios e outras coisa que tanto as machucam. Mas precisamos fazer algo. E, para nós homens, isso não é fácil também. Não é fácil primeiramente porque em geral é cômodo não fazer nada. Para nós está bom neste aspecto. Segundo porque não entendemos a profundidade das feridas diárias que as mulheres são expostas. Terceiro porque não entendemos o que é ser mulher (e nem nunca entenderemos).

Quando tomamos consciência que todos nós homens temos incorporados aspectos sociais e culturais que aprendemos ao longo dos anos, iremos notar em nossa realidade que, por mais que não gostemos, temos traços de machismo. Isso não é porque todos nós homens desejamos fazer mal às mulheres nem porque somos maus. Mas é um processo de transmissão da educação social a qual nos inserimos. O pior são aqueles homens que têm esta consciência e decidem nada fazer.

O que fazer frente a isto então? Talvez um primeiro passo é saber ouvir. Ouvir o que as mulheres têm a dizer sobre as coisas que elas passam e as incomodam. Um exemplo disso é dizer que vai treinar com uma mulher porque precisa “descansar”. É não saber rolar com uma mulher mais fraca e a machucar. É ser orgulhoso e não aceitar bater para uma mulher. É crer que o jiu-jitsu masculino é melhor do que o feminino. E há tantos outros exemplos…

Veja também: Com a palavra: eles! Como é treinar com mulheres?

Mas existem muitos homens que têm consciência destas coisas e querem mudar. E que bom que existem tais pessoas! Mas não é um processo simples. E não deve se esperar grandes tolerâncias com os erros que se cometerá neste processo. Talvez este seja o grande ponto para quem está disposto a desconstruir conceitos machistas e preconceituosos e se tornar uma pessoa melhor. Não haverá grandes tolerâncias e nem muito apoio. Haverá, contudo, piadas e críticas de ambos os lados.

Para vocês leitoras eu coloco o meu lado – o lado masculino – da questão. Quase um desabafo. Primeiro é que eu não entendo tudo. E quem entende, não é? Talvez por nunca ter vivenciado na pele algumas coisas que vocês passam. Depois, porque a conscientização para os homens em geral vem como um longo processo, pois os valores sociais impostos são comumente contrários ao feminismo. E vemos estes reflexos em todas academias de jiu-jitsu. Por estes motivos vemos séries de textos sobre assédio nos tatames, machismo, diferentes valores de premiações em competições e assim vai.

Mas o que fazer para contribuir? Naturalmente que não existem fórmulas mágicas que solucionam estes problemas, mas dialogar é um passo importante. Se um homem está em processo de mudança tente expressar apoio.  Contribua em sua academia com argumentações sobre comportamentos adequados, mostrem o que as ofende, mostrem o que é ruim vocês terem que passar. Tragam luz para as trevas sociais e sejam transformadoras de suas academias.

Por último quero dizer que este texto não é justificativa para homens que querem desculpar seus comportamentos errados por “não entenderem”. Respeito é dever de todos. As mulheres são o lado oprimido desta questão dicotômica e, portanto, quem precisa compreensão são elas.

Fica aqui meu agradecimento e carinho expresso para as colunistas da BJJ Girls Mag, uma equipe que conversa, ri, chora, discorda, concorda e transforma. Mas sempre com respeito à diversidade de opiniões e escolhas.

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