Quando a velhice chegar, aceita-a, ama-a. Ela é abundante de prazeres se souberes amá-la.
Os anos que vão gradualmente declinando estão entre os mais doces da vida de um homem, e mesmo quando tenhas alcançado teu limite extremo, estes ainda reservarão prazeres…”
(Seneca)

Elas já não falam mais em sentar à porta de casa no final das tardes e não querem companhias para o carteado. Elas preferem o tatame. Sim, nossa arte marcial despertou os olhares de mulheres novas procurando corpos mais definidos, mas também das guerreiras de 50, 60 e 70 anos que trazem a prática da arte marcial como grande apoio para um novo envelhecer.

Para estas mulheres, a arte suave está além de autodefesa. Representa mais: uma filosofia de vida. Uma das vantagens está na melhora da rapidez de raciocínio e na concentração, garante o cardiologista Cristiano Miranda, do Hospital Life Center, em Belo Horizonte. Segundo ele:

“A arte marcial na velhice é uma excelente opção a ser estimulada. Ela promove flexibilidade, relaxamento, força muscular, equilíbrio e coordenação motora, facilitando a possibilidade de ser mais independente para os afazeres diários, atividades ocupacionais e de recreação”.

Deste modo, é fácil entender a grande procura da terceira idade por este esporte. Através da diminuição do estresse, os mais idosos cada vez mais têm ganhado longevidade e alegria no dia-a-dia com sua prática.

Mulheres que lutam

A história de Ena Mallett, uma inglesa 84 anos, mostra justamente isso, que a idade é apenas um número. Ela iniciou suas práticas de luta com 46 anos, tornando-se instrutora de lutas aos 56 anos. Faixa preta na modalidade Spirit Combat International Jiu-Jistu, até pouco tempo atrás dava aulas de artes marciais às crianças e adolescentes. Segundo ela, todos devem se esforçar para prorrogar suas vidas ao máximo que puderem.

            No Brasil, temos o exemplo de Maria Pereira Rosa, 70 anos, também faixa preta. Quem quiser conhecer mais sobre ela, basta acessar o link, texto de nossa colunista Carolina Lopes.

            Entretanto, mais bonito do que ver alguém alcançar os altos níveis, já na fase sênior deste esporte, é começar no tatame depois dos 40 anos ou mais. Trata-se de um grupo específico que não teve acesso em seus períodos anteriores, seja por questão de tempo ou motivação específica, mas que estão buscando encontrar na luta a manutenção de sua vitalidade.

            Em Brasília, temos um deste exemplos na pessoa de Isabel Di Pilla, 58 anos. Motivada pelo seu filho, faixa preta 4 graus Fábio Costa, entrou no tatame pela primeira vez em 2014 por questões de saúde, e garante que hoje ela é melhor do que quando tinha 40 anos. Tentou competir por diversas vezes no master 6, porém, ainda não achou outra inscrita para o duelo. Para conquistar seu espaço e obter o respeito no jiu-Jitsu, usou de muita humildade, treinos pesados e determinação.

Das dificuldades da idade

            Entre os vilões deste período de vida estão o declínio da flexibilidade para os movimentos, a rapidez e a destreza que já não são mais a mesma dos anos dourados. Logo, torna-se desafiador a prática desta arte marcial: a nossa recuperação de lesões tende a ser mais demorada, assim como nossa queima de calorias que é mais vagarosa devido ao decaimento do metabolismo (e por isso é importantíssimo ter boa alimentação).

            Ao longo dos anos, vemos que as finalizações muito mirabolantes irão, certamente, dar lugar para aquelas mais “básicas”, que sempre resolvem muito bem quando bem executadas.

            Independentemente da idade ao se iniciar a prática deste estilo de vida chamado Jiu-Jitsu, “o que valerá na vida será a nossa caminhada, e não o nosso ponto de partida”, já dizia a notória escritora goiana, Cora Coralina. Ela, inclusive, teve seu primeiro livro publicado aos 76 anos, nos provando que nunca devemos perder o prazer de nos reinventar e descobrirmos algo novo.

            Somado a isso, frequentar uma academia, é ter a chance de conviver com diferentes faixas etárias. E pode ser magnífico olhado pela perspectiva do mais velho: sabermos nos relacionar e ir ao encontro de todos, nutrindo-nos do melhor que cada um tende a oferecer.

            Que nunca nos esqueçamos que no tatame, é lugar de enfrentar o que nos acovarda, admitir nossos fracassos e conceitos descompassados e mais, aceitar que o desencadear da vida é incontrolável assim como a velhice que nos chega todos os dias silenciosamente. E para isso, são necessários treinos diários acompanhados de muita motivação e resiliência.

            Além do mais, se soubermos, ao longo da vida, nos identificarmos por nossas capacidades e não por nossas fraquezas, buscando transpor nossos limites, teremos ao deitarmos ofegantes no tatame ao final dos treinos, a invasão da paz de modo recompensador. E assim, alcançaremos estímulo certo para seguirmos em frente com disposição e vontade.

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