Entrevista exclusiva – Ana Maria Índia

Fala galera, essa semana conversamos com Ana Maria Índia, uma das pioneiras e referência no jiu-jitsu e MMA femininos no Brasil. Quer conhecer a história inspiradora dela? É só continuar lendo!

Ana Maria Índia começou no jiu-jitsu no ano 2000. Ela havia se mudado para Marília – SP para cursar Biomedicina, e estava em busca de uma academia para fazer musculação. Enquanto treinava como de costume, ficava observando as aulas de jiu-jitsu do mestre Alexandre Oliveira da Carlson Gracie – Marília.

“Eu ficava encantada. Era legal demais. Ele não era muito grande, então eu o assistia fazendo aquelas coisas e pensava: se ele pode fazer isso ai, eu também posso!”

Segundo ela, ficava assistindo os treinos, até que um dia o mestre a convidou para fazer um. Ela, é claro, não perdeu tempo, já comprou um kimono e como ela mesma diz: “foi amor à primeira vestida!”.

“No final do treino tinha uma luva no chão. Eu peguei e fiquei olhando e o Alexandre falou: coloca essa luva e sai na porrada com aquele menino ali! Eu coloquei a luva e o garoto ficou me zoando, eu não sabia o que estava fazendo, então eu voei nas pernas dele como dando uma baiana e cai montada dando um monte de socos. Ai o  Alexandre perguntou o que eu fazia e eu respondi: biomedicina. Então ele disse: larga isso porque você é lutadora!”

Assim como muitas pessoas que começam o jiu-jitsu, ela se apaixonou e queria fazer todos os treinos, sem exceção. E depois de três meses de dedicação, enfrentou o seu primeiro campeonato. Naquela época, ainda não tinham muitas mulheres treinando, então sua luta foi casada com uma faixa azul.

“Nossa luta foi a última da noite e eu me lembro de todo mundo em volta do tatame, estava uma gritaria e foi incrível. Eu ganhei de 6 a 4. Foi muito emocionante e eu pedi pra Deus para sentir aquilo o resto da minha vida.”

Após dois anos de treino, Ana descobriu que estava grávida, mas isso não foi motivo para parar. Quando sua filha completou quatro meses ela já estava de volta com tudo para os campeonatos e pouco tempo depois, prestou vestibular para Educação Física, em Salvador-BA. Por coincidência, ou não, no dia do vestibular aconteceria um campeonato e é claro que ela não ficaria de fora.

“Eu fui para Salvador para fazer o vestibular, mas levei o kimono para a sala. Fiz a prova correndo e saí para o campeonato. Ai eu passei no vestibular e ganhei o campeonato então eu pensei: Deus é isso!”

Ainda na faixa branca e morando em Salvador, ela precisava de outra academia para treinar. Foi então que começou frequentar a Combate, com os alunos do Minotauro. E naquela época, uma mulher competidora ainda era novidade, mas ela já ganhava vários campeonatos pela região e dentro de si tinha o sonho de ser campeã mundial de jiu-jitsu.

Já faixa azul, o Minotauro fez um evento de MMA em Vitória da Conquista e ela foi junto para acompanhar os atletas. Nesse momento, já começava a nascer o desejo pelo MMA e, voltando para casa, ela começou a se preparar para o novo desafio. Encontrou uma academia para treinar a nova modalidade, o que era difícil na época, e intensificou ainda mais sua rotina de treinos, iniciando às 10h e finalizando às 23h.

Em seu primeiro evento de MMA, ela levou para casa a medalha de ouro. Na sequência, enfrentou o Minotauro Fight 2 (quando estava na faixa roxa de jiu-jitsu) e venceu em 45 segundos com uma finalização. Passado algum tempo, Ana se mudou para o Rio de Janeiro para treinar com os melhores lutadores da época. Foi então que surgiu a Team Nogueira, com um centro de treinamento para atletas, e era lá em que ela focava nos treinos de MMA intercalando com os treinos de jiu-jitsu (sua antiga paixão) na Checkmate.

Continuando nas rotinas intensas de treinos, ela conquistou o Brasileiro na faixa marrom em 2008 e 2009, até que chegou a tão sonhada faixa preta. Mas para que tudo isso fosse possível, ela precisou adaptar sua rotina para uma rotina de Atleta. E, segundo ela, foi necessário mudar sua vida por completo. Não teve mais espaço para álcool ou cigarro, e até mesmo algumas amizades mudaram. Toda a família respeita a escolha por essa profissão, mas sua verdadeira patrocinadora durante toda a vida foi sua mãe.

“O que é essencial para seguir carreira no MMA ou no jiu-jitsu é treino, foco, disciplina e repetição. Treino, foco, disciplina e repetição. Treino, foco, disciplina e repetição.”

Atualmente, depois de sete anos sem competir na faixa preta, Ana Maria Índia está voltando com força total. Ela treina na Vila da Luta em São Paulo (academia do grande ícone do UFC, Demian Maia). Índia sempre treinou com homens, e isso ainda acontece nos dias de hoje, e segundo ela, isso nunca a atrapalhou. A dica que ela deixa para outras meninas que também passam por isso é:

“Descubra o que você tem de melhor. Seja firme. Fecha a cara e treina. Estude o máximo que você puder e acredite no jiu-jitsu. Se um homem tem força para uma movimentação, não duvide que você, com a mecânica correta, consiga fazer a mesma coisa, pois dessa forma você potencializa força e velocidade. Quando estou lutando, eu penso no jogo. Eu não quero perder, não importa se é homem ou mulher”.

Também perguntamos para ela qual dica daria para as pessoas que estão iniciando no jiu-jitsu e sua resposta foi:

 “Para as pessoas que estão iniciando o jiu-jitsu, eu digo: não pare nunca mais! O tatame é o lugar onde se você estiver triste você consegue ficar feliz, e se estiver feliz você fica mais feliz. Se você está forte, você fica mais forte e se você está fraco, você consegue encontrar forças. O jiu-jitsu é a arte de fazer amigos. O jiu-jitsu feminino é incrível! A mulher tem muito ímpeto, ninguém quer perder e busca a luta o tempo inteiro. Todo mundo que compete tende a ser muito bom, pois começa a desenvolver habilidades e se perceber de forma diferente. Competir é importantíssimo até mesmo para quem não quer ser campeão Mundial. É ali que você se encontra consigo mesma, com seus medos, frustrações e ansiedades. O campeonato é só o jiu-jitsu que você já treina. É como se você estivesse treinando em outra academia. O jiu-jitsu é um jogo de perguntas e respostas corporais em que para cada pergunta existem milhares de respostas.”

Depois dessa história não tem como não se sentir motivado e com muito mais vontade de treinar e evoluir, certo? Você também pode acompanhá-la pelo instagran @anamaria_india.

Nós, da BJJ Girls Mag, agradecemos imensamente à Ana Maria Índia pela conversa tão inspiradora, pela atenção e por contribuir com o jiu-jitsu feminino.

Ah! A Ana vai dar um seminário de jiu-jitsu aqui em São Paulo, serão 3h de jiu-jitsu, submission e wrestling! SAIBA MAIS

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