A obstinação no jiu-jitsu: “cair sete vezes, levantar-se oito vezes”

Dentre as virtudes cultuadas na arte suave, a obstinação é aquela capaz de nos garantir a continuidade da árdua caminhada em busca da evolução e das nossas metas. Os japoneses a conceituam no provérbio “nanakorobi ya oki” (cair sete vezes, levantar-se oito vezes), para demonstrar a necessidade de nunca se entregar às dificuldades da vida.

Uma das primeiras sensações que tive quando comecei a treinar jiu-jitsu, foi a empolgação. Fui apresentada para um mundo novo e atraente. Cada posição nova era uma conquista e tanto. Então não era difícil frequentar as aulas todos os dias. A rotina de treinos integrava meu dia a dia. Mas com o passar do tempo, é comum acontecerem as “crises”, aqueles momentos em que questionamos o aprendizado e o desenvolvimento; indagamos se realmente é necessário todo o tempo e dinheiro gastos. Existe ainda a questão do trabalho e estudo. Muitas das vezes, serão as lesões físicas que nos colocam em dúvida.

O aprendizado em qualquer área cognitiva é algo complexo, com períodos de estagnação, entretanto, felizmente, é apenas uma fase, causada por algum cansaço ou mesmo por que o cérebro se prepara para esta nova situação. Afinal, estamos saindo da “zona de conforto” para estimular o corpo e o cérebro a reter novos conceitos. Essa realidade “assusta” a nossa mente, exigindo um certo tempo para a adaptação. Isso é comum acontecer, pois o aprendizado é um processo contínuo. Assim, algumas vezes, nos vemos desestimulados, até com uma sensação de fracasso. Isto também é uma situação que devemos enfrentar. Entender que é transitória e que todo grande lutador de jiu-jitsu já enfrentou isso.

Nesta situação, eu aprendi que desistir é o verdadeiro fracasso e que o jiu-jitsu nos exige é sempre perseverar. Todos nós somos capazes de obter o que almejamos, desde que se mantenha o objetivo, o foco. Quanto ao trabalho e estudo, é válido adaptarmos o tempo. Com certeza um novo horário ou treinos nos finais de semana ajudam. A prática da arte suave irá ajudar a diminuir o estresse da rotina de trabalho e melhorar a concentração nos estudos. Não será fácil, pois uma agenda cheia é desgastante, mas somente a força de vontade e a boa administração do tempo, conseguirão harmonizar todas as atividades.

Importante ressaltar que a prática do jiu-jitsu, à semelhança de toda atividade contínua, leva a uma saturação cerebral, causando muitas vezes, uma temporária incapacidade de aprender novas posições ou golpes. Esse fenômeno é ainda mais presente na faixa azul, quando a praticante de jiu-jitsu não é mais uma iniciante, mas ainda não detém os maiores e principais fundamentos da arte suave. É neste momento, que nós começamos a nos indagar: “Que estou fazendo aqui ?”, “Serei eu capaz de ir adiante ?”. Esses fantasmas mentais começam a sabotar nosso ânimo, capacidade de concentração e vontade de perseverar.

A melhor maneira de se lidar com isso é fazer uma regressão no tempo e se lembrar do que nos levou ao tatame e rever quais são nossas metas. Devemos mergulhar em nossa mente e alma e buscar das suas profundezas, aqueles valores, princípios e metas que nos levaram a praticar o jiu-jitsu. Para isso, é muito importante, manter a mente aberta e vazia, evitando o que a Psicologia denomina “imunização cognitiva”; uma situação onde a pessoa pensa “tudo saber” ou “nada mais ser capaz de aprender” e realmente o cérebro se fecha. Também ocorre essa estagnação mental, porque o cérebro se prepara para novas situações ainda ignoradas e o ser humano perante o desconhecido, quase sempre adota apenas a fuga ou o ataque, motivado por descargas de adrenalina. Novamente, a mente vazia e sempre aberta é que nos permite vencer esse quadro de paralisação do aprendizado.

Essa consciência de si próprio, das suas metas e limitações humanas, é o que nos leva a superar o pior dos fantasmas dos praticantes de jiu-jitsu: as lesões. É neste momento que ainda mais, questionamos se realmente vale a pena continuar a treinar a arte suave, pois uma lesão afeta a prática esportiva e todo o nosso convívio social. Essa dificuldade será superada através da perseverança; através da sincera vontade de obter aquilo que você traçou como objetivo, quando iniciou a prática do jiu jitsu.

Quando se diz nos dojos “a beleza do jiu-jitsu é que um faixa preta pode aprender algo com um menos graduado”, está se confirmando a necessidade de nos mantermos atentas aos obstáculos que nós mesmas criamos. Aqui surge a obstinação. Esse sentimento de que não posso me entregar à sorte, porque esta apenas sorri a quem realmente se dedica e luta. Ser obstinada, não quer dizer ir com fúria para cima dos obstáculos. Assim fazendo, você vai apenas se ferir ou ficar ainda mais frustrada. Ser obstinada é buscar na sua essência, os motivos que a impulsionam. É saber ir adiante, sempre, planejando uma estratégia que envolve, descanso adequado, boa alimentação, preparação física e dedicação aos ensinamentos do Professor. Obstinar é levantar sempre que cair… Oss.

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