Kit de recuperação: primeiro mês

Nesse primeiro mês após minha lesão e diagnóstico de TVP, tenho encontrado três elementos que têm sido muito importantes para minha recuperação e que considero essenciais para qualquer pessoa que esteja também nesse processo difícil de reabilitação, independentemente do tipo de lesão ou motivo de afastamento.

O primeiro elemento é a informação. Muitas pessoas acham que a ignorância é uma benção, porém estamos num momento no qual a única coisa que nós separa da informação é um simples “clique”, então não faz sentido fugir ou ignorar os fatos e as possibilidades atrás dos diferentes fenômenos que vivemos tudo dia. Por isso, meu primeiro conselho é procurar informação sobre o que está acontecendo com você: o básico, causas, consequências, tratamento, sinais de alerta, histórias de pessoas que já passaram por isso (bem melhor se for alguém que pratica BJJ), etc. Devemos lembrar, no entanto, que a mais importante e confiável fonte de informação é nosso médico. Ele é quem tem não só os conhecimentos, habilidades e experiência mas também quem conhece nosso histórico para determinar o melhor caminho para a recuperação. O que a internet me deu e que o médico ainda não conseguiu dar foi esperança, pois imagino que você já experimentou, ele usou aquela frase traumática “nunca vai poder…”. Dias depois encontrei a história de Serena Williams, tenista número 2 do mundo, que passou por uma situação muito parecida com a minha e, depois de um ano difícil conseguiu voltar ao topo. A história dela e de muitas outras pessoas, como você e como eu, tem aberto aquela porta das possibilidades que nunca podemos deixar fechar.

O segundo elemento encontrado na internet foi o apoio. Aqui na BJJ Girls Mag já havíamos falado da importância dos parceiros e a equipe no treino e nas competições dentro do tatame, mas o que acontece fora dele é igual ou ainda mais importante. Somos fortes e corajosos, mas a verdade é que nem sempre conseguimos sustentar o peso do mundo sem ajuda, pois também somos humanos. Hoje eu agradeço porque à noite sempre tenho a mão da minha mãe no lugar onde tomo as injeções diárias, acordo com mensagens de motivação do meu namorado, recebo uma vez por semana mensagens das meninas da equipe feminina perguntando por mim, e os dolorosos exercícios da fisioterapia estão sempre acompanhados de um “você pode, Di!” ditos por minha fisio. O progresso desse mês não teria sido possível sem eles. Por favor, não se isole. Vai até a academia para acompanhar um treino, convide seus parceiros para aquela sessão de fortalecimento, fale com seus amigos sobre seus medos e preocupações. E você, que tem amigos ou parceiros afastados, procure-os e ouça o que eles têm a dizer.

O terceiro elemento é a coragem. A primeira vez que a fisio foi até a minha casa e pediu que eu fizesse um exercício, eu tentei fazer e falei “não consigo”. Aí ela perguntou para mim “Ok, mas você não consegue por causa de dor ou por causa de medo?”. Ela sabia a resposta. É normal? Claro, nossos corpos e nossas mentes são muito eficientes em criar mecanismos de defesa. Eu não vou falar que você deve encontrar coragem porque para mim a coragem, como a matéria, não pode ser criada ou destruída, apenas transformada. Então transforme outros sentimentos, outras experiências, em coragem. Para isso, eu estou fazendo duas coisas. A primeira é a seguinte: quando eu tenho que fazer um exercício da fisioterapia e não consigo por medo de machucar de novo, mesmo tendi ouvido a fisio garantir que já posso fazer, eu faço primeiro com meu outro pé, não lesionado. Observo o pé e tento sentir tudo o que está acontecendo, desde os dedos até o quadril e depois eu copio o movimento com o pé machucado. Esse exercício me ajuda muito não só para cumprir o exercício, mas também para corrigir. Quanto ao aspecto mais psicológico de encontrar coragem naqueles momentos de frustração, aqueles que chegam na solidão, aqueles que acompanham a incerteza do futuro, eu faço um exercício chamado de “Três coisas boas”. No final do dia, eu pego um caderno e escrevo três coisas boas que aconteceram no dia, coisas que eu fiz bem, momentos de felicidade, de superação. Escrevo porque eu acho que foram boas, o que eu senti, e me parabenizo por ter conseguido isso e também me perdoo pelos momentos nos quais simplesmente não tive paciência.

Um erro que muitos de nós cometemos é voltar para os treinos bem antes do que é indicado pelo médico. Pessoalmente, eu admiro as pessoas que  não desistem e desafiam o “você  não pode”, porém quando uma decisão tão importante é tomada desde a frustração e a saudade e não desde elementos como a informação, apoio e coragem, as consequências são terríveis, pois podemos machucar de novo, com agravamento do quadro e aumentar o tempo de recuperação.

Um amigo me disse que as artes marciais nunca nos testam dentro do tatame, mas fora dele. Hoje, eu estou sendo testada e a melhor parte desse teste inesperado é que ele não tem prazo, não tem um só jeito de fazer e nenhuma calculadora no mundo vai me fornecer a resposta. Cada dia as perguntas mudam e os elementos necessários para resolver, como esses três que deixo para vocês hoje, mudam com elas.

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