“Se você não quer ser assediada, não poste mais fotos assim!”

… disse o jovem dominador, ao se dar o direito de “cantar” insistentemente uma mulher, apenas por ter visto uma bela foto em sua rede social. Um assunto tão discutido atualmente tem sido o assédio sexual (estupro, violência sexual), em função de cada vez mais acontecimentos desse tipo, e cada vez mais coragem das mulheres em contarem o que lhes ofende, denunciarem seus agressores, falarem o que não lhes agrada, abrir o verbo e falar mais abertamente sobre assédios, sobre ameaças como as do título que, embora possa parecer bobagem, trata-se de grave ameaça: “não posso mais postar uma bela foto, pois o ‘moço’ vai me assediar, e ainda vai dizer que eu pedi por isso, já que ele me ‘avisou’ para não postar”.

É, a sociedade enxerga e julga dessa forma mesmo: “a culpa é da vítima”. Vale ressaltar que não precisa haver violência física para que sejam caracterizados estes crimes. Mas por não ocorrer fisicamente, muitas vítimas acabam não denunciando seus agressores por pensarem que são bobagens comuns, por acharem que não terão apoio (e a gente sabe que nem sempre terão mesmo), por acharem que serão vistas sempre como culpadas.

O fato deste título é verídico, mas as identidades serão preservadas. Após uma foto publicada em rede social, um “’homem” resolveu puxar assunto com a mulher, num papo que começou simpático, e mesmo após uma educada dispensa, ele insistiu; e com as negativas, revidou, foi grosseiro e ainda lhe aconselhou a não postar mais se não quisesse ser assediada. Patético! Não bastasse apenas o papel a que se prestou, trata-se de um indivíduo graduado faixa azul de uma famosa equipe de jiu jitsu, assediando uma faixa preta. O respeito, que mesmo fora dos tatames deveria existir, passou longe.

Mas o que nos traz até aqui é toda essa cultura de dominação (leia sobre o assunto aqui) que existe entranhada em nossa sociedade. Não vamos generalizar a ponto de dizer que todo homem é um assediador/estuprador em potencial, até por que esse não ser o foco neste artigo, só que tudo isso é reflexo da sociedade em que vivemos. Desde muito novas, as meninas são sempre ensinadas a “não serem estupradas”, a se vestirem mais cobertas, a se comportarem, a serem “pra casar”, por uma infinidade de motivos, mas é assim que os pais querem que sejam.

E por vezes a maioria desses mesmos pais tratam diferentes os meninos, sem lhes impor tantos limites quanto são impostos às meninas, sem ensinar o respeito ao outro (a), incentivando as saidinhas, os namoros desde muito cedo, e pra nos situar sobre a realidade, desde bebês ouvimos (e falamos) que “esse vai ser pegador”. Percebam que nisso existe uma hipocrisia sem que ao menos possamos nos dar conta. Os mesmos pais que ensinam a filha a não ser estuprada, que ensinam o filho a ser “pegador”, também estão julgando e reclamando dos carinhas que assediam sua filha, sua namorada, sua esposa na rua etc. É muito fácil querer que não aconteça na sua casa, julgar o que acontece lá fora através da internet, mas não se importar com o que pratica de fato.

Isso é cultivado há muitos e muitos anos, e hoje, com o poder da internet e suas hashtags, isso se torna cada vez mais evidente por quem consegue enxergar um palmo além de seu umbigo. Os protestos são sempre fortes, contra o racismo, contra o machismo, contra o assédio, contra tanta coisa. Mas além de se “vestir” de um protesto, é preciso se reinventar. Sábio é aquele que consegue se autoanalisar, enxergar e reconhecer seus erros, agir conforme suas palavras, ter atitudes na mesma intensidade com que prega a “moral e os bons costumes”.  De nada adianta um protestante atrás de um computador, que diz não ser estuprador/assediador, que repudia atitudes de homens assim, mas que “encoxa a mina” na balada por ela estar usando um vestido colado justificando “ahh, ela tava pedindo né?!”. NÃO! Ela não estava pedindo!

Se nos perguntarem agora se este artigo vai adiantar alguma coisa em meio a todo esse cenário, a nossa resposta é que, pode até não adiantar, isso não é uma denúncia, não é um depoimento, nem uma narrativa sobre o que aconteceu, mas um convite à reflexão sobre a coerência entre o que você diz e o que você faz. Talvez não adiante nada mesmo, mas talvez isso nos faça refletir, homens e mulheres, sobre nossas atitudes, e talvez também o “carinha” que fez esse papelão sirva de exemplo para que outros pensem bem no que possam estar fazendo, e que possivelmente, evitem serem expostos nesse tipo de situação.

Antes de finalizar, queremos ainda deixar registrado o nosso respeito aos homens que prestam apoio a esta causa, aos homens que entendem que o seu limite acaba quando começa o limite do próximo, aos homens que conseguem interpretar um grande e poderoso NÃO apenas como um grande e poderoso NÃO; que entendem que nenhuma mulher diz NÃO querendo dizer sim, que entendem que nenhuma mulher deseja ser estuprada, que a culpa NUNCA é da vítima, que não adiantava estar em casa, na igreja, no tatame, na escola, na faculdade ou na padaria, pois isso acontece em qualquer lugar onde tenha uma mulher e um homem que se sinta um macho alfa, um dominador, ou resumidamente, um babaca!

P.s: Se você passou ou passa por situações desse tipo no tatame (ou mesmo fora dele), conte sempre conosco, mande seu depoimento ou sua denúncia. Unidas, somos mais fortes!

Boa semana à todos 🙂

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