Sou a única mulher na minha equipe – e agora?

Talvez você já tenha visto situação como esta em alguma academia: apenas uma mulher treinando entre tantos homens. O Jiu-Jitsu, assim como outras artes marciais, há algum tempo era visto como esporte predominantemente masculino, e o preconceito pela presença de mulheres nos tatames sempre existiu (e ainda existe, bem menos expressivamente).

A mulher, desde sempre precisa se firmar e provar “à machadarada” que sua presença ali é apenas por vontade de treinar, de se dedicar, pela busca de melhores condições físicas, técnicas e mentais, e não para se promover entre os homens, ou dar aquela moral que muitos pensam. E essa não é uma missão tão simples assim para elas. Vamos pensar sob alguns pontos de vista diferentes?

A maioria de vocês já devem ter visto algo do tipo, em alguma academia. E as mentes machistas de homens e mulheres já devem ter olhado com maldade pra isso. Quem nunca ouviu falar das Marias-Tatame? Não estou aqui para falar se elas existem ou se isso já é um apelido preconceituoso criado em alguma época. Mas por causa dessa certa fama, muitos homens e até mesmo suas namoradas e esposas que não treinam, pensam que todas sejam uma espécie de Maria-Tatame.

Mas não! Não é pelo fato de uma menina aceitar e se matricular para treinar em uma academia só com homens que ela o faz para conquistar alguém, dar em cima, fazer charme, ou se promover, etc. Ela se matriculou para treinar, e apenas isso que a motiva, sendo indiferente ao sexo de quem está na mesma turma. Ora, se para estudar, por exemplo, as turmas podem ser mistas, por qual motivo a turma do jiu jitsu não pode?

Quer dizer então que sua mente machista acha que a mulher não deve treinar se na academia só tiver homens treinando? E se não tiver outra academia com mulheres, ela deve mudar de esporte? E se, mesmo que tenham turmas femininas, e se a menina se sentir melhor treinando com homens? Sim, muitas também preferem treinar mais com homens que com outras mulheres. E aí, qual o problema nisso? Nem toda menina quer ser bailarina. Parem com seus preconceitos!

Seguindo esta linha de raciocínio, a mulher parece “ser obrigada” a provar seus objetivos reais sempre. Não pode descuidar, não pode tirar gracinhas demais, não pode conversar demais com ninguém, não pode participar de nenhuma “social” com a turma do treino, pois se fizer algo disso, tá dando moral. E não estou afirmando que só os colegas de treino possam pensar isso, apesar de que, sempre tem um pra achar que ela está dando moral mesmo. O que estou afirmando é que sempre alguém vai pensar dessa forma: ou o namorado dela, ou os colegas de treino, ou a família dela, ou alguns colegas e conhecidos, ou namoradas e esposas dos colegas. Quem ver “a menina da academia” em uma social da turma da academia sempre vai olhar com maldade para uma mulher entre tantos homens.

E por falar nas namoradas e esposas, muitas das nossas leitoras (e os leitores também), com certeza, irão se identificar com essa: você começa a treinar em uma academia, seja começando no Jiu-Jitsu, mudando de cidade, ou mudando de equipe apenas, depois de alguns dias de treinos rolam as famosas fotos da turma, que naturalmente, são postadas nas redes sociais. Dia seguinte de treino aparecem duas ou três namoradas/esposas para “fiscalizar” o treino. Claro, “se até ontem eram só homens, o que essa menina tá fazendo ali do lado do meu namorado/marido?”. Quer pensamento mais retrógado? Sério mesmo?! A mulher tem instinto para sacar essas coisas, e sim, ela percebe que virou motivo de ciúme e machismo por parte de outras mulheres também.

Também podemos citar as meninas que se sentem meio deslocadas e tímidas nos treinos com turma predominantemente masculina. Não somente por serem as únicas mulheres em suas academias, mas por terem assuntos que uma mulher só conta para outra mulher, tem coisas que só mulheres compartilham, da mesma forma que tem coisas que homens só conversam com homens. Na hora dos rolas ficam meio sem graças pelo contato, por algumas brincadeiras insinuantes, e muitas vezes também se sentem assediadas. Já ouvi alguns depoimentos de meninas que contam que já passaram por situações constrangedoras na hora dos treinos, mãos bobas, convites sem rumo, brincadeiras sem graça, excitação. Sim, acontece! Sempre tem algum sem noção que acha a menina “tá ali pra isso”, que se veste pra isso, aquela velha mania de achar que a culpa sempre é da vítima.

Mas agora deixo registrado todo o meu respeito aos colegas de treino de verdade! Aqueles meninos que respeitam “a menina” da academia, que tratam como uma colega mesmo, que se preocupam com sua evolução no treino, se você aprendeu ou não aquela posição que o mestre passou, que se preocupam com alguma lesão que você tenha sofrido, se você não pôde ir ao treino, se está tudo bem. Meu respeito aos colegas que tratam “a menina” da academia de forma respeitosa, que fazem questão de socializar, de incluí-la nos momentos de descontração também, que sabem brincar sem achar “vai pegar”, que sabem conversar e sabem entender que ela está treinando pelos mesmos motivos que ele, que ajudam.

E apesar de todas as situações de preconceito, machismo e assédio que uma mulher pode passar por ser a única da sua equipe, eu preciso afirmar que é esse tipo de colegas de treino que mantém uma boa relação de respeito sim, que faz o “bonde andar”, é o que motiva, é o que faz a diferença no bem-estar da atleta, e consequentemente, na escolha pelo esporte, pela equipe perfeita, pela família perfeita. A família que você escolheu fazer parte.

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